Limpando a Mente
Conjectura
O alcance do nosso olhar
E aqui estou eu, me preparando para encarar a sujeira, municiando-me para, de certa forma, traduzir no que espero da minha expressão em relação ao universo, espelhar um desejo íntimo de tornar-me capaz de limpar o que estiver sujo e, claro, ao meu alcance.
Quando nos deparamos com o inesperado prazer que a vida nos dá, relacionado ao que consideramos necessário, útil ou consequência de escolhas, esforços e uma sorte tremenda, vemos que somos apenas um acumulado de resultados, como escreveu José Ortega Y Gasset: "Eu sou eu e minhas circunstâncias." e cai tão bem essa pequena frase que nos catapulta para um novo cenário, isento de sorte, azar ou qualquer outro subterfúgio utilizado para eliminar a competência, a criatividade e o esforço daquele que lutou por suas conquistas.
Das nossas criações
Aqui estamos, buscando compreensão para entendermos o que nos liga a outros seres humanos, hoje, eu me vejo às voltas com a pequena Liz, a minha princesa que me acompanha, seja lá o que eu esteja fazendo, porque? Pode ser por simplesmente ela ter essa referência para buscar conhecimento, por conhecer-me desde que houvera aberto seus olhos pela primeira vez. Fato é, que estamos rodeados de pessoas que escolhemos, ou que nos escolheram e, mesmo não estando no enquadramento desta imagem que eu começo a montar para os leitores e apresentar aos expectadores, está minha esposa. Realmente, a única pessoa na minha vida que me escolheu. Além disso, existem coisas que vão ficando com a nossa cara e nosso jeito, que adquirem as características personalizadas que acabam por presumir a nossa chegada, como a moto que customizamos, os carros que customizamos e, mesmo, os cortes de cabelo que escolhemos. Tantas circunstâncias que nos trazem para o social que entendo sermos mais parte de um grande organismo social do que necessariamente humanos independentes e isolados do contexto em que estamos inseridos.
A configuração resultado da crítica
Aqui estamos, buscando atingir o grau mais alto que a sociedade nos exige para que não sejamos criticados, julgados, condenados e presos. Sim! A sociedade que nos rodeia nos faz crescer, evoluir e até mesmo morrer... creio que seja simples compreender que os indivíduos não creem e nem mesmo apoiam as tradições, fazendo assim com que cada vez mais sejam sim, críticos ao legado que recebem, sobre a história que leem e tudo aquilo que houvera sido descrito como parte dos acontecimentos responsáveis até mesmo por sua própria existência.
O questionamento é um princípio filosófico e, ele, responsável por nos libertar das crenças que aprisionaram personagens e gerações na nossa história. Esse mesmo questionamento,capaz de derrubar muros e desvelar histórias que hoje a ciência já explica com clareza indubitável. A Razão e a cognição que se aplica na esfera pública, faz avaliar as relações do homem com a natureza, buscar informação científica para esclarecer a sua própria origem, a sua existência e explicar as reações que suas ações têm causado ao universo que conhecemos.
Toda essa crítica científica e racional liberta o ser humano e traz consenso onde habita a realidade e a visão clara do ser humano no reflexo da própria imagem que ele deixa no livro histórico da história da civilização. Esse mesmo exercício racional resulta na clara mudança de como vemos deuses, de como aceitamos o intangível em nossas vidas, fazendo com que representantes das mais diversas crenças, busquem com muito ardor, manterem-se ativos, fazendo sentido na vida das pessoas, considerando o grau de conhecimento, influência e dependência de cada alma naquilo que decide por acreditar. Mas o assunto aqui é científico e meu interesse é mesmo ver a minha motocicleta limpa, porém, os assuntos vêm à mente e eu não os poderia ignorar sem dar vazão ao fato inédito de que, estamos sim, vivendo uma inflexão do tempo, buscando maior humanidade, maior interatividade e numa queda de braço com a artificialidade dos relacionamentos que refletem hoje, na solidão do ser humano ante o toque e o contato com o seu semelhante.
O que fortalece a sociedade, vai sempre ser inversamente proporcional a tudo que se traduz em tecnologia, ciência e realidade, pois a espiritualidade, está muito mais avançada, como sempre esteve, do que qualquer atividade matemática que o ser humano possa criar, baseado em data lakes de informação compilada para encontrar a resposta para suas dúvidas mais sigilosas.
Paralelos mentais
Simplicidade
Jaques Derrida é especialmente sintético e certeiro quando diz: "Nunca cedo à tentação de ser difícil só para ser difícil." Depois de um silêncio constrangedor, eu me obrigo a afirmar: difícil é para nós, todo aquele que já adquiriu mais conhecimento do que nós. Difícil, é aquele solo que não nos empenhamos de igual forma para realizar com a técnica adquirida por quem por ele, dedicou mais tempo, esforço e estudo. Pois bem, que ótimo saber e poder lembrar a todos que nada é irreversível ou imutável na sua essência, que qualquer circunstância pode ser alterada a partir dos verbos, sujeitos e advérbios que utilizamos. Na obra de Derrida, existe extensa procura pelo explicar de que não existe nada fora do contexto, existe sim, as posições distintas sobre a maneira como cada indivíduo lê o texto. Eu mesmo, em dado momento da minha juventude, li Platão com uma interpretação, porém, a vida, as circunstâncias, o amadurecimento do ser humano como chamamos todo aquele que caleja suas perdas, coleciona pequenas vitórias e orgulha-se por pequenos parágrafos do livro de seus dias, já faz mudar a interpretação de cada cena, de cada ensaio.
Ocorre que, não precisamos ser difíceis, não devemos olhar para o mundo como um desafio cansativo, perigoso, impossível ou desafiador. Somos suficientemente aptos, escolhidos entre milhares de milhares para estarmos hospedando essa fase da história do universo, só isso, motivo de agradecimento e profundo reconhecimento! Pois bem, vencidas as pestes que devastaram nações, guerras, pandemias, amores quebrados, desilusões sociais e políticas... estamos aqui, quiçá lendo esse texto que se estende por mais de uma página.
E porque insistimos em derramar lágrimas sobre perdas, porque insistimos em encontrar algo de errado que podemos nos sacrificar e julgarmo-nos não aptos, se, por conjectura, somos escolhidos. Ok, concordo, a sociedade nos moldou de acordo com as suas necessidades e a preparação para o trabalho que recebemos no segundo grau (que hoje nem mesmo existe mais), nos preparava apenas para sermos conscientes do derrotismo por não estarmos sendo parte do coletivo preparado para concursos e vagas mínimas que selecionariam os brilhantes representantes da nossa geração.
Intimidades...
E lá vamos nós, buscar em nosso íntimo o que consideramos que recebemos como dom, como um presente divino que nos foi concedido para que sejamos em algo, especiais. Pois bem, desculpe estourar mais esse balão na sua conjectura ou na crença popular, mas eu concordo com Richard Rorty: "Não há nada em nosso íntimo, exceto o que nós mesmos colocamos lá." e então pense bem... pense por um instante... você é um exímio músico... nasceu tocando? Olhou para um instrumento e o compreendeu de forma a, no mesmo instante tomá-lo em suas mãos e dali criar ou reproduzir algo em sua perfeição... creio que não... e isso posso aplicar a muitos outros modelos, tal como o fato de eu estar neste momento falando a você o que houvera escrito em algum momento: antes de escrever, aprendi como ligar as letras e o que elas representam, depois li, li muito... o suficiente para que a confecção de uma frase tivesse o necessário embasamento para que eu não me sentisse envergonhado pelo seu resultado... E assim, Rorty me abraça com a força da razão quando diz que não temos nada no nosso íntimo que não tenhamos nós mesmos, colocado lá. E por que isso é tão límpido e claro? Porque aquele que nunca amou, não tem no seu íntimo, a clareza sobre este sentimento por mais que o tenha estudado na teoria, nosso íntimo é a contextualização de nossas experiências, é o simples resultado daquilo que buscamos e tivemos contato.
Na intimidade, olhamos para um banco de uma praça, aquele banco tradicional, com barras metálicas normalmente desbotadas, de uma pintura branca que houvera recebido anos atrás... a informação que esse banco traz para o nosso íntimo é um resultado matemático, comparativo relacionado ao histórico da nossa memória sobre esses móveis, somado a condição em que nosso corpo encontra-se e a necessidade que sente por este objeto como meio para saciar a demanda pelo descanso, ou, ao contrário, àquele que houvera levantado-se recentemente de um sofá estofado, do banco do seu carro, terá no seu íntimo, apenas uma resposta negativa quanto a sua importância naquele contexto em que se encontra.
Inspiração para inspirar
É recorrente a sugestão dos amigos em relação a impulsionar-me a escrever constante e diariamente, e, não acho isso ruim, pois se temos algo a dizer, é um grande egoísmo, escondermos o nosso pensamento e o que temos a contribuir, seja para qualquer pessoa, o que sabemos ou da forma como interpretamos.
Nosso pensamento é movido por um combustível bastante personalizado em relação ao que o mundo concebe como adequado: a oposição! Sim, pensamos em contra-ponto, pois pensar para concordar com o que é argumentado pelo outro, é enfadonho, torna-se desinteressante e perde a nossa atenção. O nosso pensamento sempre será opositor ou, ao menos, complementar, melhorando, no sentido em que percebemos, o que já consta como nossa realidade. E assim evoluímos no detalhamento de uma motocicleta, assim evoluímos na maneira como pensamos nossa rotina e tudo aquilo que compomos na realidade da humanidade enquanto proeminente de um contexto social eclético.
Se pudermos inspirar alguém a fazer algo, que sejamos portanto, superados, que sejamos, algozes dos ínfimos que descrevem superficialmente, a vida como um filme social sem enredo, sem uma trama e um ponto a destacar de forma a sermos coexistentes mesmo que, em times opostos.
As escolhas são as respostas para nossas perguntas
Não vou falar o óbvio, mas relembrar que, nos interessamos por aquilo que nos falta ou nos causa maior interesse ou necessidade, por tal forma e formato, os algoritmos das redes sociais "acertam em cheio" quando lhe recomendam os assuntos que mais te prendem à tela, mas, vem cá: não seria o momento de buscarmos algo novo? O empreendedor de sucesso não se utiliza da rotina e do que existe no consumismo normal de sua sociedade para alcançar o sucesso, ele cria algo novo, resolve um problema, atende uma demanda de um grupo de pessoas que nem mesmo realiza que sente falta disso e por tal forma, acaba por não perceber como lógico foi o pensamento daquele que atendeu suas expectativas.
Considerando o indivíduo como sujeito e aportando à ele, toda a consciência sobre o que ele representa no meio em que encontra-se fica mais claro, mais simples e mais prático, considerar que, temos na nossa comunidade, tudo aqui que nós mesmos quisemos em algum momento de nossas vidas e, retornando ao contexto que objetivou esse texto, nada menos podemos mensurar do que, simplesmente, que, estamos vivendo a realidade que no passado foi o incerto futuro que habitava os nossos sonhos, com a interveniência daqueles que compuseram a nossa realidade ao ponto em que nos tornamos realidade, juntamente com as linhas que escrevemos nos desejos do passado.
Eu vejo o mundo ruir em guerras e disputas, como sempre ocorreu em todos os períodos da história, vejo as falhas humanas veladas por uma cultura que aceita certos comentários como válidos por simples justificativa de sua própria e completa incompetência. Eu vejo mundo de forma simples, amparados pelo olhar atento daquela que me vê como o seu guia, seu primeiro professor na escola da vida... eu vejo que sou o eco de tudo aquilo que durante toda a minha vida, eu gritei para o futuro.
Abstrato.
Link do vídeo no youtube: https://youtu.be/6imR5V2sOL8