...reencontrando amigos...
E a gente volta ao papel para registrar sentimentos sentidos no passado, reencontrando amizades que jamais distanciaram-se do curso normal do rio da vida. E aqui estamos, rindo de nossas idades, fazendo piada de quando a vida parecia tão dura, mas se fazia tão simples e respirávamos de maneira tão inócua que sequer percebemos como o tempo foi generoso com a nossa estrada, com a nossa caminhada e pelas simples escolhas que nos trouxeram até aqui, com o orgulho dos velhos, com a admiração dos jovens.
Sim, parecemos velhos... e velhos somos, velhos amigos que sempre jovens, ainda continuam com o mesmo pensamento, sempre acreditando nas pessoas e na vida e mantendo o tênue laço das amizades, integro e reforçado mesmo com a distância e o passar dos anos.
E é no trote lento de um blues chamado Jacarepaguá Blues que lembro da textura do vinho tinto do Macagnam que tomávamos enquanto as mentes fervilhavam ideias de como transformar o destino unindo força e conhecimento para fazer a nossa realidade, um novo momento e um futuro diferente. Enquanto mudávamos o mundo, nossa amizade se fazia ainda mais forte, a partir da previsão da décima segunda badalada, as horas passavam rápido, quando surfavam entre camafeus e tragadas que nos tornaram como somos... ilustres sonhadores que jamais desistiram de seus sonhos e hoje vivem, suas individuais e brilhantes vidas sob um travesseiro de tranquilidade por termos sido, sempre, escoteiros que honraram a bandeira da amizade.
E é claro, num momento de recordação que me levou ao teclado, expor um minuto de todo o filme de anos de histórias que se fizeram a partir de um simples encontro de ideias como o encontro de dois rios que não geraram ondas mas sim, carregaram nutrição para que jamais deixassem de misturar o extremo com o centrado pé no chão. E acho que são destas relações que se cultivam as maiores descobertas de grandes duplas de amizade.
E hoje nos encontramos digitalmente nos momentos mais incertos, mas existem pessoas que completam as nossas vidas, seja numa praça, num dia branco de felicidade onde a fotografia nos faça apenas almas livres, completas pela companhia daqueles que não são apenas como chuva que vai do céu aos rios, mas sim, constantes como o momento especial onde encontramos a amizade dentro de cada momento simples e especial em mesma proporção.
E a estrada... a estrada sem atalhos que sempre nos levou ao encontro, quando não haviam atalhos e não houvesse mais do que simplesmente a camaradagem de haver sincronismo de escrever histórias ainda inenarráveis no livro dos dias.
Falei tanto em amizade, mas ela se dá pela solidão, onde as almas se encontram na memória de um momento onde havia a liberdade, onde o destino estava além do taco de sinuca e na brasa de um charuto, entre risadas e cervejas. E aquela cidade nunca mais fora a mesma, dentre zippos sumidos, fomos miseráveis em momentos de oradores que reciclaram o verdadeiro conhecimento da filosofia.
Éramos solteiros e tínhamos a amizade como forma de não ouvir sozinhos o eco de nossos pensamentos... porque sozinhos, somos apenas vontade, enquanto que juntos, realizávamos sonhos impossíveis, baseados no simples fato de que podíamos confiar a segurança um no outro e esse nó jamais nos deixou sozinhos, levando em diante um existir que acaba por tornar-se meu nome mais singelo e pelo qual ainda sou conhecido.
Longe do mundo confortável das coisas simples da vida, ainda pensamos numa louca velhice que os mais jovens não são capazes de compreender porque não viveram a época da criação, de quando se podia, livremente, buscar a sopa diretamente da plantação, rir da própria iniquidade por parecer infantil.
E é hoje, em mais um aniversário, que nos vemos e nos analisamos, mais velhos e melhores, onde o arco íris já mudou suas cores, quando deixamos de ser apenas ilusórios e hoje ícones, onde o fim deixa de ser realidade ou expectativa, para tornar-se uma simples besteira da juventude da qual rimos, do futuro aquele do qual tínhamos tanto medo, hoje somos, o que jamais imaginamos mesmo com tantos planos.
Fica um gosto de saudade, fica um sorriso nos lábios que se acaba no olho que vê o futuro com conhecimento e expectativa, e no começo do fim, mesmo que seja o fim, ainda somos semente daqueles que virão, como feridas curadas daquela amarga vida, que hoje nos brinda com uma novo dia independente de tudo aquilo que imaginamos e suponhamos nas piores especulações. E dos familiares, somos exemplo - mesmo sobre o que não fazer - mas aqui estamos, incomodando sempre, sendo diferentes dos demais e mais: excepcionais!
Longe é a distância para aquele que desconhece a amizade.
Abstrato. (Que um dia tu batizou)