Sou um fantasma naquilo que vivi e por onde eu passei.
No ônibus, nada rua e naquele bar. Aquele que ainda está lá não é quem sou, sou um fantasma que habita as pegadas que eu deixei nos bancos que ocupei nos ônibus que andei, mas praças que habitei.
Sou um fantasma da memória dos aplausos que eu ouvi, sou apenas lembrança, uma sombra tênue que distorce a realidade com uma silhueta carcomida pessoas reais. Hoje o fantasma que não assusta, assiste com a tranquilidade de um pescador, aguardando a morte daqueles que pensam estar vivos.
Aprecio o viver comum e corriqueiro do dia-a-dia cego daqueles que ainda acreditam no trabalho dignificador e que a vitória está arraigada às conquistas tangíveis, monetárias que preenchem o vazio de suas almas pobres.
Sou aquele fantasma que assusta, apenas, àqueles que acreditam ainda, na vitória numa vida terrena, fria, pobre e miserável de sentimentos reais como a amizade da noite com a Lua.
Aquele fantasma que lembra você do tempo que perdeu procurando impressionar, o fantasma que deixou tomar forma em razão do teu próprio rosto para que não parecesse frágil, fosse intransponível e invisível aos olhos de qualquer sentimento de piedade.
Sou fantasma para aqueles que o mundo pudera ser um dia real, sou fantasma porque minha crença está distante do material e isso nos difere de aspecto, forma, cor e sentimento.
Sou eu o fantasma?
Abstrato.