O que mais somos além de motociclistas.
Na semana próxima passada, sempre no passado é claro, eu fui questionado quanto ao que houvera achado do passeio que fizemos de motocicleta. Eu e os irmãos motociclistas daquele motoclube que tão bem recebe seus irmãos de estrada nos eventos que participa. Aquele motoclube que pensa em andar de moto, tomar cerveja e se divertir quando mesmo a atividade for algo que traz a alegria para outras pessoas.
Enfim, é aquele motoclube de poucos anjos que estão sempre ao nosso lado quando precisamos, aqueles que falam as palavras que apenas amigos de verdade seriam capazes de profetizar quando mesmo sabendo que possam causar desconforto.
Pois bem. De passeio de moto, todo mundo deve fazer alguma ideia, afinal de contas, tudo inicia a partir de um propósito: andar de moto. A partir daí é agendamento, uma definição unânime de horário e local de encontro, prever que atrasos poderão ocorrer, pois em qualquer reunião de pessoas tem uma noiva que vem a atrasar-se, porque precisa comer, desmontar a moto, fazer ponte porque não pega mais ou qualquer outra situação que espera-se como normal para que se dê um encontro em dado local e horário que houvéramos determinado. Feito isso, abastecidas as motocicletas, cumprimentados os amigos e algumas risadas depois, é dar partida nos motores e rumar de modo orgânico agrupado baseado em simples regras que nos conduzem de forma segura para os destinos que um breve cronograma possa ter sido anteriormente formalizado. Com paradas estipuladas para reabastecimentos e para algumas fotos mágicas de lugares que muitos nem mesmo percebem quando passam, o comboio vai cruzando o mapa mental feito pelo puxador responsável pela organização do comentado passeio.
Enquanto a nossa origem fica para trás, distanciando-se no retrovisor, vamos em busca do destino, mesmo que incerto e acho que, o que mais buscamos com uma motocicleta é mesmo essa sensação de que não há regras, ou mesmo um cruzamento de verdades absolutas que nos façam tornar o passeio massivo em qualquer instante. A cada marcha passada, a cada mudança do ronco da moto que reflete em cenários distintos, nosso pensamento vai mais além do que o momento e a circunstância. Dentro dos capacetes, tempestades de pensamentos e emoções diferentes. A ansiedade dos mais jovens que a tão pouco juntaram-se à nós, assim como outros que de sua experiência aguçada pela quilometragem, conseguem olhar mais além no horizonte daquele tapete que a natureza criou e o homem tratou de asfaltar.
São absurdas as conversas que teríamos se houvesse uma maneira de comunicar a tudo que pensamos, mas, acho que isso é bom, percebo quando tiramos os capacetes nas paradas (sejam elas programadas ou não) que cada um tem uma serenidade que não havia no iniciar do passeio, que agora, percebe-se até mesmo na respiração, na emoção de cada um de um novo lugar ou uma nova paisagem. Se o intuito deste texto fosse apenas a fria análise do que contempla um simples passeio de moto, já teríamos bastante conteúdo. Mas recordo que o findar deste, é porém, a missão de colocar minhas impressões sobre um determinado passeio que o Motoclube sugeriu a partir do seu vice-presidente.
Pois bem, vamos rodar!
O passeio iniciou bem antes da data em que pegamos nossas motocicletas, tendo seu startup no plano sugerido para o feriado do dia do trabalhador (vejam portanto, como atrasei a confecção deste texto). A partir da sugestão do nosso amigo, vice-presidente da nossa entidade, passamos imediatamente a empenhar-mo-nos em reunir o maior número de integrantes para participar conosco do passeio. Conquistamos um quórum de 57,14% confirmados para o passeio! A partir daí, foi apenas contar os dias, olhar consecutivamente a previsão do tempo, já que, com chuva, a paisagem e os perigos no asfalto se escondem e o que resta é apreensão, seguida de uma potencial gripe, nada agradável para quem está por pegar sua motocicleta para divertir-se.
E o dia anterior chegou! Regado a um jantar e um encontro digno de amigos de verdade, combinamos o horário da saída e o local de partida e assim nos recolhemos.
Dia do evento.
Acordo de sobressalto, caindo dentro das roupas escolhidas para pegarmos a estrada e, depois de um café feito na hora pelo meu querido amigo Ito, partimos para o local combinado para nosso encontro e partida. Motos abastecidas, café, e líquido para hidratar o corpo, os irmãos vão chegando e fazendo-se constantes em nossos passeios. Recebemos um novo amigo, um grande camarada que está experimentando neste dia uma viagem em comboio - sua primeira - e vê-se nos seus olhos sua alegria e ansiedade por nos acompanhar naquele momento.
Dados os normais atrasos que relevamos sempre, com motivos que justificam sua ocorrência, todos estão reunidos. Partimos.
A partida.
Todos vestem seus capacetes (sempre de olhos fechados) e acho que, isso mesmo que jamais alguém tenha dado-se conta, ocorre porque inicia a prece do motociclista que, na sua consciência, busca fazer de mais um dia, um momento de paz em que nada ocorra de improvável ante ao que prospecta para o seu passeio. Luvas, tocas, chaves e ignição! A sinfonia de cilindradas diversas enche o ambiente e eleva a adrenalina de todos ali que buscam, a partir do puxador que é o primeiro a movimentar sua moto, uma posição a assumir no comboio que se forma de maneira natural, sem que haja qualquer ditadura que altere-a. Todos buscam seu companheiro anterior no retrovisor e posiciona-se na via de forma a ver e ser visto.
Hoje, encerro aqui, deixando para uma segunda parte, o que mais aconteceu neste passeio, o que mais, percebe-se quando analisamos de forma romântica e apaixonada pelas duas rodas, o que acontece na estrada quando se está entre amigos, portanto, fica de olho, em breve, posto aqui a segunda parte dessa história.
Abstrato.