Khalil Gibran, O Profeta
Sobre os filhos
Filhos, alcanço este capítulo em perfeito momento, quando eu e minha amada estamos testemunhando a geração da Liz, nossa filha. A temperamental menina que já chuta e cabeceia! Ainda a conhecemos apenas em preto e branco, mas, o que abaixo concluo baseado nos livros que estou lendo, somado ao que resume Khalil Gibran, corrobora que estamos teorizando correta e justamente aquilo que todos os pais de meninos e meninas deveriam pensar e aplicar na educação, no acompanhamento do crescimento e evolução de seus filhos.
Desavisados pais de primeira viagem podem criar suas epopeias de como será a rotina e a educação aplicada ao seu filho, acho normal que imaginemos que, quando algo novo é anunciado, as expectativas fazem-nos criar modelos de como será cada minuto do seu nascimento, passando pela primeira infância, adolescência, etc... mas Gibran nos traz de volta à realidade com a síntese de apenas uma página onde coloca o que aqui, comentarei, seguindo o propósito desta sequência de textos.
"Seus filhos não são seus filhos."
Extravagante introdução para espanto no imprevisto argumento que impacta o início da expressão da lúdica definição que, torna a fazer sentido com o sequenciar dos argumentos que se seguirão nas linhas deste capítulo que quanto menos iniciamos.
Aos pais, usarei o termos pessoais de posse para que nos percebemos mais próximos de nossa realidade, ao invés de utilizar-me da terceira pessoa como se aos conselhos, seguisse nesta defesa pela análise do que trata o tema primário: nossos filhos. Àqueles que ainda não detém o adjetivo, utilizem esta análise para voltar os olhos para sua criação, para seus pais, na condição de filhos e, quiçá, possam visualizar e até mesmo entender o porquê de certos vícios, modos, cultura e até mesmo, suas frustrações profissionais e pessoais. Não pretendo, sequer tenciono tornar esta análise um motivo ou instrumento de cura, mas, ao que servir para esclarecer, estarei extrapolando minha humilde expectativa de análise.
Nossos filhos são resultantes do estado de angústia da Vida que, através de nós, enquanto pais, realizamos, na concepção de um novo ser, independente ao que tange a fisiologia do respirar, daquele coração bater até o respirar de seus pulmões. Eleitos como breves responsáveis pela guarida, ao cuidar de sua saúde e acompanhar seu crescimento, soa mesmo impessoal, mas racionalmente lógico que um filho nasce por meio de nós e não de nós como imaginamos e aprendemos com a sociedade que, descende da cultura da busca pela responsabilidade dos progenitores. Nós, enquanto filhos, reconhecemos nossos pais como mentores, como guia, como suporte e segurança, porém, seremos sempre seres individuais, em pensamento, em alma e defronte a vida.
O pais têm, por consequência, da responsabilidade social que lhes cabe ou por costume, chamar os filhos de seus, em uma referência de posse, identificando que são parte ou patrimônio de suas vidas, remetendo à costela de Adão na figura teatral bíblica. O seu filho vive junto de seus pais, mas é uma pessoa única, uma alma originalmente livre que herdará costumes do meio em que estiver inserido e jamais dependente fisiologicamente de seus pais, amigos e outras pessoas que o cercarem. Os filhos poderão receber amor de seus ancestrais, mas não terão seus pensamentos controlados e, aqui, começamos a corroborar que, aquele enunciado, começa a fazer sentido um tanto menos surpreendente e mais aprazível na sua interpretação. Terão seus próprios pensamentos e a sua forma única de compreensão sobre a vida e sua inclusão na sociedade.
Jamais tentemos enquanto pais, tornar seus filhos à espelho de vós, sendo possível apenas, aproximar-se de como são respeitando sempre a regra do caminhar lado a lado como almas que cultivam a companhia do caminhar pelas estradas da vida.
Finalizo essa análise com a mesma figuração que exemplifica os pais sendo arco, tendo os filhos como flechas, uma linda passagem para lermos: "Vocês são arcos pelos quais seus filhos são lançados ao longe como flechas vivas. O arqueiro vê o alvo no infinito, e puxa com força cada flecha para que ligeira voe longe. Deixem-se na mão do Arqueiro por boa vontade; porque assim como Ele ama o voo da flecha, também ama o arco que é estável."
Ao passo que os pais entenderem-se como instrumentos indispensáveis na mecânica da vida, entenderão que ao conceberem a oportunidade da vida aos seus filhos, estão cumprindo com uma lei da vida, que, independe da crença quanto ao "arqueiro" enquanto figura da energia vital que nos move no sentido da vida, terão realizado a vontade de cada célula vida que busca a vida como resultado primeiro do viver.
Abstrato.