Khalil Gibran, O Profeta
Análise Comentada
Desafio é uma ótima forma para definir o motivo desta pequena série de comentários que faço a partir da obra de Khalil Gibran, O Profeta que chegou e me foi apresentada uma vez por uma filósofa, depois, presenteado por um grande amigo que, sem saber despertou em mim o desejo de produzir este material, afinal, se o texto é denso e por tal não sugere uma agradável leitura, o que mais posso fazer senão tornar mais contemporâneo o doloroso exercício da leitura.
E assim mergulho nesta leitura, numa análise que confronta com certo egoísmo, os ensinamentos do então personagem que profere o conteúdo grave da verdade sobre coisas simples, sobre sentimentos que, nos dias atuais julgamos dominar, conhecer e até mesmo desprezar por se tratarem de potenciais fragilidades que nos podem prejudicar a performance de uma vida consumista, regrada e determinada pelos valores capitalistas e políticos que nos cercam.
A Chegada do Navio
As sutis cortinas da história se abram em um formato que já sugere o que encontraremos no sequencial do livro. Um preâmbulo de clarividência ilumina nossas almas com a profundidade do sentimento desvelado pelo protagonista.
“Assim é o amor, só conhecemos sua profundidade no momento da separação.” E assim conclui após revelar todas as frases de sentimento que expressam aqueles que o tiveram do seu lado, com a livre possibilidade da sua companhia e seu conhecimento por mais de 12 anos. Por fim, no momento em que seus olhos rompem os portões da cidade, quando a despedida é iminente, só então, os moradores do pequeno vilarejo contemplam a importância da sua presença. Apenas quando, e sem mais possibilidade de retroagir no tempo, seus amigos analisam seus próprios sentimentos, concebendo a dor da partida, vislumbrando a triste dor que lhes aponta no horizonte do futuro, da saudade e a falta que nosso protagonista fará por não mais escrever, por não mais pintar o mundo a partir de sua sensibilidade.
Consternado com sua partida e com a pele que lhe é arrancada numa dor terrível por deixar naquela ruas, naqueles campos e naqueles montes, partes suas de história, de pensamento e emoção. Dilacerado pela lâmina da tristeza, sabe que desta partida, uma grande cicatriz ficará gravada para sempre em sua memória. Homem de grande capacidade de confecção dos arquétipos, transmite com beleza e leveza a razão, necessária para expressar seu desejo: levar consigo. De seu “coração suavizado pela fome e pela sede”, compreende não poder carregar consigo todo aquele lugar, todas as pessoas, assim como descreve que a “A voz não pode levar a língua e os lábios que lhe deram asas. Sozinha deve seguir o éter. E sozinha, sem seu ninho, a águia deve voar através do sol.”
Muito já sabemos, e sentimos, sobre despedidas que olhamos no retrovisor de nossa história. São graves as chagas que carregamos, como moedas que recebemos, enchendo nossa carteira, pesando em nosso caminhar e Asim, arrastamos colecionáveis dores, feridas ímpares e marcantes sob nossa pele de memória infinita onde debruçamos longas horas. Na busca por uma interpretação que traga alento ao coração, sentimos o sumo do amor, o arrependimento das palavras que não falamos, das ações que ficaram apenas em nossa ideia sem que as tenhamos empreendido.
Assim, partir é a única alternativa, mesmo com os olhos sangrando, com um peso imenso do tempo carregado em suas costas, o tempo lhe permite apenas caminhar em direção ao seu destino: o barco que lhe aguarda para partir rumo ao seu sonho: voltar para sua terra madre, para um outro despertar que o horizonte lhe devolva parte de outra dor, quando houvera deixado parte de sua vida, numa partida que não lhe deram por escolher fica.
O que se segue, neste livro são as lições sobre sentimentos, cultura, sociedade e, dos mais básicos preceitos que nosso protagonista vai deixar para os habitantes deste lugarejo, qual, ele noa pode carregar em sua mala. Conforme supostamente pretendia Khalil Gibran, também Almustafa: “Vim a este mundo para escrever meu nome na face da vida com letras grandes.”
Aqui, poderíamos sim tecer inúmeras linhas sobre os motivos que nos elevam para buscar também escrever nosso nome na face da vida com letras grandes, errado pode estar porém, o propósito que vem sendo estrategicamente modificado, tornando o homem, a criação mais perfeita da natureza, instrumento da ganância e da escravidão pela simples busca fria de um arenoso sucesso que não mais compreende o motivo principal da evolução da vida, no seu pensamento, nos seus ensinamentos.
E assim entraremos nos capítulos deste pequeno registro de Khalil Gibran onde em, apenas 26 capítulos ou abordagens, nos deixa um legado, nos permite pensar sobre quais são as tintas que usamos par escrever no livro de nossos dias. Sobre o papel da oportunidade de cada novo dia neste livro da nossa história, o que propomos e sentimos de tudo que vemos nos dias atuais - o livro da nossa vida.
Abstrato.