terça-feira, 22 de setembro de 2015

O artista

-Visionário de um espetacular mundo paralelo-


 Científicos tentam até hoje entender e traçar um modo lógico para explicar logicamente o processo criativo que envolve um artista na sua criação, na determinação de suas habilidades específicas para estruturar o processo criativo - sem sucesso. Os estudos continuam enquanto novas formas de expressão artística aparecem em meio a nosso cotidiano conturbado e multicultural.

Definida a indefinição da confusão criada pelo artista na sua forma e concepção, nos resta admirá-los, admirar a sua obra e a capacidade fascinante de transformar a forma nos apresentando um novo modo de ver algo que, por vezes, esteve por todo o tempo ali, a nos acompanhar, tropeçamos sobre as peças que se tornarão arte na mão de um artesão, através da lente de um fotógrafo, a caneta de um escritor, o pincel de um pintor e por demais tantas formas de arte que expressam-se unicamente nestes seres humanos que possuem essa veia artística dilatada como costumo dizer.

Mas não podemos supor que a vida do artista é fácil. O artista convive com a tempestade do questionamento e da inquietude, ele, sensorial, não percebe que sente o movimentar do mundo de modo particular e é envolvido pelos pensamentos que o corroem, levando-o à criação aparentemente inexplicável de uma cena, porém esta, representa suas opiniões, sentimentos e por vezes,a simples necessidade de expor, externalizar  algo que não suporta na sua mente.
 
 O criativo vive em contato muito próximo com o sentimento e acaba captando facilmente energias, sensações e emoções do coletivo, por isso sentem-se de tal forma importunados com o aglomerar-se das massas e com a exposição pública demasiada. O artista é um filhote sem vacina que facilmente pode contrair uma doença, foge disso através do isolamento para poder sentir-se equilibrado e encontrar-se para poder criar.

A mesmice dos dias e das formas incomoda um criador, alguém que fervilha novas ideias e formas, busca ação e movimento para os conceitos sociais que tanto os incomodam pela estatização em que são apresentados. E então vemos diversas expressões de obras que desafiam o preconceito moral social comum, vemos impressionados a sua coragem - que na verdade é a sua cama mais confortável: o novo em um mundo que não precisa de dogmas a serem seguidos e respeitados.
 
 Desligado? Como chamar um criador que te mostra coisas novas, invenções ou uma visão mais bela do prisma comum de tua realidade? Com seu relógio próprio, respeita apenas o seu sentimento de inovar, criar e compor, independente da determinação de dormir, acordar e comer, podendo ficar dias sem dormir ou hibernar por longas horas de acordo com seus próprios princípios de autopreservação. Mergulhar neste obscuro mundo pode ser chocante, assim como maravilhoso e apaixonante, mas não pense que o acompanhará, pois é individualmente que ele funciona, no silêncio ou acompanhado do som que ele mesmo escolher.
 Sua lógica não segue a matemática básica e sua atenção não foca o que os seres humanos "normais" estão olhando e pensando, ele olha distante, ele tem sua atenção para uma frequência diferente de luz e som, avaliando mentalmente outras formas que nossos olhos destreinados jamais conseguiriam ver, assim como nossos ouvidos, ouvir.
 
 Ardiloso espectador do do mundo, leva sua análise à expressão da sua obra e na criação demasiada de sua produção, expressa o que de mais intenso tem da percepção de um mundo comum. Pode ser tão sutil em medir a força de sua empunhadura, como chocar ao ponto de ser julgado como vilão social ou moral como já vimos em exemplos que se espalham e eternizam-se no tempo.
 Todo artista encontra sua maior satisfação na execução de seu dom, da sua sina. Não se percebe escravo da criatividade pois é nela que encontra-se e descansa a mente do pesado fardo da expressão que infla na sua alma conturbada pela visão particular que tem do mundo e suas formas. e nele vejo o repulsar do comum, na mesmice que prende de modo inalteradas as formas criadas pelo homem ou mesmo pela natureza.
A natureza... seu refúgio espiritual, a natureza que proporciona a mudança, o inusitado e recarrega as suas baterias por deixar de ver, nas mesmas posições, todas as coisas que o homem já criou ou destruiu. Essa clarividência para o novo o torna espectador do tempo e responsável por diversos registros da passagem do ser humano em nosso planeta.
 Sistemático é o seu oposto por jamais conhecer um formato comum para o que será o resultado do seu trabalho, por isso, trabalha livre, longe do conceito comum, dos relógios ou de formatos organizados de execução. É orgânico e ramifica o pensamento na captura de imagens que venham a compor o que será o resultado melhorado de um desenho antigo e comum que vemos de nossa realidade. Como uma vibração intensa e diferente dos átomos de qualquer composto, realiza a ordenação de moléculas para criação do novo, daquilo que, em certo momento, despertar-te-á beleza e delícia pelo efêmero.
 
Como parabólicas captando sentimentos e momentos, alimenta o arquivo de imagens e formas que darão forma a um futuro novo trabalho e, se preocupado, se algo distanciá-lo da virtual cúpula da inspiração, permanece inerte, sofre com o deslizar das horas sem  que possa respirar o ar criativo da concepção de um tema que o liberte destas escravidões mundanas. Quando mergulha novamente no seu mundo, brilha e encarna-se no processo ilógico de sua criação.
A faculdade intrínseca de arte de cada indivíduo não encontras-se em qualquer ser humano. Cursos existem para normatizar, ensinar a utilizarem-se de ferramentas, entender os movimentos lógicos e normais de um artista com suas ferramentas, como máquinas fotográficas, pincéis, sistemas de edição, postura num palco, um martelo, um formão ou uma lixa... mas jamais ensinarão a arte, jamais conseguirão atingir o cume da aptidão que não se ensina, jamais conseguirão mais do que massagear o lado direito do cérebro.

O que entendemos e identificamos como criatividade parece ser um pouco mais complexo quando analisamos o perfil de um criador ante a sua obra. O seu resultado é para ele, muitas vezes, inusitado, alcançando muito mais do que a sua expectativa inicial e compreendido quando há clara noção do que compôs as premissas de cada acessório, cada parte do conjunto resultante de uma ação.
 Artistas que me perdoem por explorar ou externar o que penso quase que inescrupulosamente, mas o fascínio pelo tema tem me acompanhado pela vida, presenciando criações musicais, visuais, materiais e mesmo sensoriais. Os artistas estão no mundo para colori-lo e torná-lo mais suportável para pessoas céticas e incapazes de visualizarem sozinhas uma versão diferente da realidade que aprenderam a reconhecer com o passar dos anos. 
Enquanto seguimos pelos caminhos comuns, estas pessoas abrem mão da riqueza e de conquistas comuns que são almejadas pela maioria social, para trazer uma versão diferente da vida, para gritar através da sua forma de expressão, todo o sentimento e sua crença que acumula-se no hemisfério distinto da mente.
Meu agradecimento a estes profissionais é imenso pois é o sentimento que nos toca de alguma forma quando olhamos para uma imagem, para um objeto ou mesmo quando ouvimos uma canção composta e criada através da via criativa de um músico. Distante deste seleto grupo de pessoas, me animo a escrever, bater palmas e oportunizar que mais pessoas tenham acesso a novas sensações, novas expressões que permitam elevar a alma a um patamar de emoções que não somos capazes de prestigiar pelas próprias mãos.
 
Já ouvi declarações de pessoas frente a uma obra: "não entendi", "não faz sentido pra mim", etc...

Tenho certeza que sim, já que, para entender, o cérebro precisa conhecer, como entendemos quando alguém pronuncia palavras em nossa língua, entendemos por que um dia essa linguagem -  outra forma de expressão - nos foi apresentada, porém, como ter acesso a algo novo e compreendê-la técnica e logicamente quando o que estamos a observar é a arte, a criação de uma nova forma de linguagem que o artista apresenta da sua maneira e com a sua forma de tradução? Somos sim medíocres e temos que simplesmente sentir, pois a arte, uma vez que não é lógica, jamais poderá assim ser compreendida. 
Apesar de toda a inteligência artificial que nos rodeia na atualidade, esta jamais criará, jamais nos trará algo de resultado que não seja lógico ou calculado, portanto, a arte jamais morrerá ou sucumbirá enquanto houver um artista, que mesmo surdo comporá uma canção maravilhosa, enquanto houver sentimento e sensibilidade para perceber nas frequências de seu sentimento, assinar a carta para o futuro de uma expressão que representa a sua época e a página seguinte da evolução do ser humano sobre a terra.
 

"A arte capacita o homem a compreender a realidade, e ajuda-o não só a suportá-la, como a transformá-la". - Ernest Fisher


Agradecimento: Janaína Perotti Fotografia pela inestimável permissão de uso de suas imagens, assim como, e não poderia deixar de mencionar o material teórico para essa crônica.
Mais arte desta artista em: 
https://www.facebook.com/JanainaPerottiFotografia?fref=ts


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