...entre o bem e o mal...
Não pedi para ser assim, eu apenas fui produzida pela sociedade para as mais diversas funções, me ensinaram a dividir e proteger, me obrigaram a impor limites que não criei e sempre há dois lados e dois sentimentos que divido.
Criada pelo egoísmo, pela necessidade de estabelecer posse ou regra de domínio por uma sociedade capitalista, feita para determinar o poder e a ostentação sem que haja a liberdade de tocar.
Liberdade...
a liberdade que eu removo ou limito de um lado, oferece ao outro lado a imposição de retenção, durando o tempo do respeito que me for dado e se a justiça permitir, acolherei àqueles todos que não foram qualificados a viver em meio a sociedade e os escondo atrás de meus limites enquanto amedronto outros que, jamais gostaria de ser abraçado por mim.
Vejo sempre dois mundo de cima, tenho que ouvir os lamentos de quem comigo está parado, bloqueado pelo aço que me forma em formas delicadas para que não representem toda a ruptura social que criei quando para esta função me destacaram. Vejo pessoas tristes e pessoas felizes, pessoas com desejos e pessoas sem sonhos.
Não apenas como sendo formal, empírico e visto por todos, sou também transparente, onipresente porém com a mesma função de bloqueio a partir do momento em que, acabo por deixar esquecidas as almas em seus quartos, presas à pessoas e relacionamentos falidos que, por sua carência, deixaram de fazer parte do mundo, escondidos dentro de si mesmas e despercebendo o passar da vida, até o ponto em que, finalmente, percebem que sou uma criatura da própria mente aprisionada que por segurança boicota a própria liberdade para alcançar uma sensação positiva de dor, contrária ao que sente pela infelicidade de sua realidade.
Eu protejo o homem dele mesmo, de seus desejos e da conduta falha para os padrões sociais que foram encriptados nas leis, sendo o braço mais forte da regra e do regimento da ordem. Minha característica e cores variam, com formas que por vezes me orgulham, outras me envergonham... não é fácil compor um ambiente homogêneo quando na verdade queria mesmo era poder mudar a forma da maneira como melhor me convém. Acabei por apanhar, sempre que desempenhei meu papel, pois aqueles a que imponho determinação, acabam por descontar em mim a sua insatisfação.
Sim...
...são grades que nos fecham em um pequeno quarteto de paredes que nos consomem a liberdade e sufocam o nosso caminhar, são grades formadas de regras sociais e pragmáticas que desrespeitam a liberdade do indivíduo em função de uma insanidade cultural que nos furta o exercício de mesmo respirar. Como cachorros em um canil, como pássaros em gaiola que não podem correr à vontade, latir, cantar e brincar, não podem voar além do espaço entre suas paredes hermeticamente soldadas.
Grades que tem vistas opostas de acordo com a experiência particular de cada pessoa e a maneira como tem vivido, como tem passado seus dias, aprisionados por relacionamentos falidos, onde não houve compreensão ou atenção para entendimento das mensagens subliminares, dos desejos, medos e necessidades que um relacionamento exige para manter vivo o laço, o anel sensível do bem querer. Assim como para quem, livre, as vê pelo lado externo, sentindo a liberdade e desviando dessa barreira que mantêm cercado alguém que permanece intocado, seguro do mundo e claro, perdendo toda a sua liberdade. Mas quem de fora vê essa proteção, sorri, pois sabe que ela não é intransponível, tampouco capaz de encerrar a vida de alguém, difícil mesmo, é viver atrás de uma barreira onipresente sem que haja cometido qualquer crime que a reclusão obrigada (pela sociedade ou mesmo pela simples cultura ou esquecimento) venha a amarrá-la a grades invisíveis para muitos, mas muito presentes para quem perde o seu direito a respirar outros ares, viver e ser feliz, conhecer pessoas e mesmo, apaixonar-se por outras imagens que não a mesma que encerrou a sua liberdade, por conta de qualquer pacto sem descrição ou regra, apenas pelo simples fato de haver por histórico, a dor.
As grades da dor nos trazem um sentimento de remorso, os cadeados nem seriam tão firmes, tão intransponíveis que, com o próprio querer, esforço e real vontade, não possa romper. Mas a vida nos prova com o tempo, o enferrujar de qualquer grade, qualquer prisão mostra sua falha e oferece um ponto de fuga, já vi extremos, já percebi que nem sempre é possível e imediatista a libertação de quem sente-se preso - e para ele sim, as grades são altas demais para sua envergadura - enquanto que para outros, podem ser tão ínfimas que passam a ser hilárias.
As grades da lei são injustas, prendem o resultado que a sociedade criou, corrompeu, julgou e agora mantém preso, as grades da dor e da loucura, grades que consomem os seres humanos - aqueles que lá estão, como os demais que assistem o desfile da própria falta de humanidade, cultura e respeito... a reclusão evoluída conhecemos, não evitam grades, mas oportuniza, a recuperação, a reintegração social, enfim, apenas uma opinião sócio-cultural fútil...
Apesar de tudo, espero, ao menos aqui não haver grades para que todos possam ler sem distinção.
Apesar de tudo, espero, ao menos aqui não haver grades para que todos possam ler sem distinção.
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