segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Cacos pelo chão


Não há restos para o abandono



Ouvi na manhã de hoje uma notícia relacionada ao abandono de um idoso. Encontramos animais abandonados nas ruas, assim como crianças sem a atenção de seus pais. Diariamente somos apedrejados de notícias relacionadas ao abandono das estradas (quanto a sua conservação), assim como os eleitores em relação aos eleitos.

O abandono é uma forma realmente vil de impedir o acesso do indivíduo, é a dilaceração dos laços sociais. O desamparo para o qual fechamos os nossos olhos hipócritas e preconceituosos, é o mesmo que cria uma classe rejeitada e esclusa dos direitos garantidos a todos. Sonegar a subsistência, declinar de um compromisso sem aviso ou ainda, relaxar o desígnio das suas determinações compõe uma carteira de privilegiados egoístas e maldizidos.

Neste formato de restrição encontramos amores quebrados, pessoas que perderam o seu caminho e direção enquanto os demais procuram esquecer-se de que poderiam ter feito algo. E mesmo podem, mas preferem fechar os olhos e dar as costas, munindo-se de razões que possam lhe creditar razão para ter deixado então, uma vida, uma história, uma página em branco no livro de seus dias, algo tatuado em suas mentes como uma maldição mostrando em cada espelho, a natureza perversa daquele que ignora o que deveria ser de seu poder único.

Do alto do meu desconhecimento do tema e da sua complexidade social, apenas observo o que todos preferem não ver, já que apenas quem tem coragem de visitar um lar de idosos, consegue entender o real significado desta palavra e o contraste que existe na falsa beleza daquela película que as redes sociais preferem mostrar. Percebo ainda, a necessidade de assistência e eminência na atenção que são proporcionais a probabilidade do abandonado, assim como tudo que vemos, é senão, a desistência dos responsáveis, as costas impiedosas dos egoístas.

Aquele que abandona um projeto por qualquer razão, deixa de perceber a grandiosidade em sentir-se útil e inserido em algo maior. Enclausurado na sua própria jaula da culpa, percebe estar em declínio à solidão ao deixar a chance de um manter-se vivo pela consideração que gera poder ser, quando ao mínimo, útil naquilo que poderia ter feito. O mesmo assunto que inspira músicas, que traz pessoas para um mesmo mutirão, uma mesma luta que não traz vitória ou troféu, traz apenas a mínima condição de sobrevida para o sujeito e mote deste levante.

Se abandonou alguma coisa na sua vida, o que mais esperar senão tratar-se de um vício, uma situação desfavorável para ambos, ou ainda, um trabalho que não traga orgulho. Se houvera qualquer resiliência, espero que ao menos possa dormir sem que tenha deixado algo por fazer por alguém ou por algo, assim como, dores e lágrimas pelo caminho do céu que lhe permitirá dormir com os pingos de lágrimas que fizeste cair dos olhos de alguém.

Então se temos cacos pelo chão onde pisamos, se nossas pegadas estão apagadas na praia e nossas mãos não contam a história do nosso trabalho, com certeza, não fizemos o que nos foi confiado, não estamos cumprindo com a quilo para o que fomos designados e ainda, machucamos pessoas que jamais mereceríamos ter encontrado...


Faça valer a pena a sua presença aqui, dentro do teu próprio peito!

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