quinta-feira, 26 de maio de 2011

Em observação...

Nas coisas criadas pelo homem, que dele ficam as impressões de personalidade. Num ato de bravura e devassidão, na imensidão de um quadro pintado no escuro da inspiração que vira sonho, formam-se digitais que lembram o criador da maneira mais que impressionante. Tenho na minha janela a imensidão de céu e nuvens que vão ao horizonte mais rapidamente do que meu pensamento conseguiria. Tenho portanto, um ponto de vista não-criativo para expressar o que rodeia meu pensamento aos meus olhos divididos entre partes homogêneas de uma face cálcica, feito farol, ambulando na sua própria base, caminha ao limite do seu próprio eixo, do ponto de vista imutável da margem do pensamento criativo.
É talvez por tal, num comportamento observacional - qual me encontro - perceber nas paredes firmes que ergueram-se alimentadas pelo sonho de um homem, nas árvores frondosas, plantadas pela imaginação de um dia doarem sombra aos seus próximos vizinhos, protegido pelos telhados acinzentados e úmidos que bordam todo o quarteirão, do cuidado de qualquer sorte proteger o seus de todo o mal. É talvez por apenas estar desgarrado da rotina atribulada que me mantém fixado ao real, distante de mim mesmo, que neste momento fecho meus olhos para ver o que a mente imagina, longe das cores de um sol amarelo que distorce o pensamento. Cada detalhe, compõe senão, na arte do seu ímpeto, firmar as bases da vida e da família neste pedaço de chão maltratado pelo tempo e decrépito pela ação da natureza implacável.
Hoje meu, por hora, por um ano ou mais, representa a proteção e o ponto de partida para qualquer lugar, a localização ideal para meu morar, na passagem pela vida. Há que deixar aqui lembranças de amores e vitórias, derrotas e vidas combalidas pela dificuldade, alegrias diversas até o último adeus. Hoje jaz um ar de despedida, um pretérito imperfeito de saudade de quem partiu, repleto de sonhos cortados e milhares de horas à luz da vela que iluminava o mais insípido desejo de sobrevivência do ser humano. Tempos em que se aguardara o momento da colheita e a certeza da bravura que distingue o ser humano dos seus iguais.
É com um modelo não acabado de desenho como este, que se forma a arquitetura de um lar, decantadas as palavras e as sensações de qual humano que houvera passado por este lugar, o mesmo horizonte se vê. Sôfrego é o momento em que nos deixamos voar pelos caminhos do pensamento, aos olhos do firmamento, passam as horas e não mais o tempo te é num momento apenas, aquele que lembra que se faz hora de partir.
Eu olhei nos olhos desta solidão, para o desalento do abandono para poder ver refletidas, as vidas que escreveram nas páginas da história, estas palavras que não mais injustas, traçaram as vidas e riscaram a pele dos mais inatos versos que desta visão se formaram.
Não houve rima para a palavra casa, ou endereço para o lugar, sentimento que não envolvesse porém, um pensar distante que se voltasse àqueles que um dia olharam para as pedras, para o mato que cobriu este pedaço de chão - sonharam e edificaram morada. Num árduo trabalho que varou luas numa tropeada solitária pelas trilhas das dificuldades, no frio e no calor do céu fincado sobre os chapéus dos inaptos artistas, me alucina o fato de hoje conseguir ver esta história, entre o nascimento e o falecimento de um sonho que veio à terra em forma de pedras, cimento e madeira. Todos à vontade do seu criador, reflete a imagem distorcida e incompleta que a lágrima deixou na hora da partida.
Hoje pairam apenas as lembranças fracionadas pelo tempo, qual a luta dos homens desenhou na terra, suas marcas e desejos dos sonhos mais íntimos, luziram no céu em descanso quando desta obra, vieram à tona na mais doce sensação de vitória e conclusão. Trabalho este que jamais termina, sendo do homem, nata a inquietude que o leva sempre além de suas possibilidades e suas posses, sempre aquém, do que sua criatividade seria capaz de criar – o martírio da insatisfação constante, que nos leva nesta nuvem, ao crescimento e a evolução constantes.
Penso nos sonhos que crio, na materialização de desejos distantes, que me acompanham por anos de uma vida em busca do bem, pelo reto trajeto da igualdade - esqueço... esqueço pois de tantas vitórias que jamais comemoradas, deveriam pois, terem sido valorizadas por um minuto apenas, mas que, pela urgência do viver, nossos relógios nos arrebataram mais cedo para outra luta, para outra batalha. Cheguei até aqui passo ante passo, caminhando com as costas para o horizonte e vendo o que para trás deixei, relembrando pessoas que jamais deixaram o armário de minhas lembranças e colocando nos bolsos cada amizade que me veio compor o quadro de meu passado, escrevendo o meu presente num livro sem desfecho. Buscando nova página e mais tinta para cada capítulo da história, que pinta colorida a lembrança de cada novo dia, de cada desafio superado. Minha alma se enaltece ante o fato de ainda poder escrever, de pé sobre as responsabilidades que me cercam e ao lado das pessoas que ao meu lado estão, olhando comigo para o mesmo horizonte, transpondo o mesmo mal que nos aflige... finalmente... abrigados sobre o mesmo teto.
Meu mundo nada tem de sobrenatural, desfaz-se pelos mesmos modos que água salgada destrói castelos de sonhos nas areias do pensamento, aspiro o ar doce que congela minha garganta e que voltam mais sonoros em versos livres que agora caem sobre folhas de papel. Desordenada é a lembrança e muito clara a visão de que mesmo sozinho, a olhar para as edificações de sonhos abandonados no tempo, tenho certos e nítidos os meus sonhos e desejos que compõe a energia que a cada dia me faz acreditar no propósito da existência.

Se não por aqui acaba o verso, também não, e jamais constante, será minha forma de inspiração na leveza do mundo quando além dos olhos humanos e do sentimento que vareia corações. É com o treino que cada um acerta o passo e com o tempo, se acomodam as pedras de qualquer estrada. É caminhar portanto, nosso destino e nossa função, a paciência de ver crescer uma árvore e a inteligência da observação tranquila, qual formará a árvore de sonhos onde ainda há de repousar com todas as suas lembranças – que sejam elas agradáveis, honradas e dignas!


Abstrato.

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