Como se descreve, escrever-te em uma folha de papel, desenhar teus traços e tuas nuances? Como detectar a tua presença que fica mais constante a cada dia e vai minando, preenchendo cada espaço do meu pensamento. Procurar um lugar onde não me alcance a sua força que tira a minha concentração e desvia meus olhares para um ponto no infinito do céu, perdido entre estrelas que não me apresentam solução para livrar-me de você.
É doce a lembrança, mas que seja em doses, em fases e por apenas quando não me toma por completo e muda meus hábitos. Nem mesmo a comida tem o mesmo gosto nem o mesmo efeito e me fazes de teu espectador, plateia para suas peripécias. Enquanto brinca com minha ínfima energia, me desperta o pensamento quando trago para a memória aquela foto, aquela frase, aquela simples lembrança. Vai minando minha segurança com tua certeza, com a volta constante e novamente tua presença. Quando me visitas, sempre uma nova menção ao fato de sermos todos tão frágeis e vulneráveis às suas investidas.
...apresenta a saudade... me abraça agora, veja comigo aquelas fotos, me faça companhia enquanto vejo à distância, apenas os traços digitais de quem te remete à minha lembrança. Vamos por este caminho de braços dados enquanto a fatalidade da nossa realidade nos coloca assim, juntos, distantes do nosso amor.
Não por demais seria justo poder de ti despedir-me e poder sentir ao lado aquele perfume que a tanto apenas meu cérebro pode sentir em preto e branco, formato da lembrança que nos corrói mais a cada dia que passa. E assim gastamos o mesmo trajeto a cada dia sem conseguir sequer, deixar de ter ao nosso lado a sua marga companhia que promete o reencontro mas não deixa descansar o coração em momento algum.
Deixo sempre a porta aberta, a janela encostada – jamais travada – afinal tu pode chegar a qualquer hora e, me trazer mais um alembrança, mais um momento a princípio tão ínfimo e pequeno, por vezes, tão grande... maior do que nós mesmo, maior do que somos capazes de suportar. Mas do que alimentar-se-ia o boêmio senão deste momento de lividez onde flutua-se em pensamento e viaja-se por um simples momento de inspiração e permissão poética para fazer tornar rela um momento qualquer de simples distanciamento de qualquer drama, em fuga da realidade qual não suportamos mais.
Enfim, me traz alívio, mesmo sem que consiga eu desenhar-te, fazer em tela representar tua fronte com óleo e pena. É mais um momento de imprecisão e surpresa quando chega para me trazer sem novidades, as velhas notícias de nossas maiores certezas e, nesta vibe de momentos díspares, minha montanha russa de emoções me eleva para a companhia abstrata do meu amor, e me devolve em seguida ao chão de minha realidade que impeditiva mantém-me à distância acompanhando seus passos e palavras digitais.
Sempre chega o dia em que haverá o reencontro, sempre mais perfeito e repleto de momentos raros e tão comuns a olhos estranhos e desconhecidos, afinal, vais deixar minha companhia assim que ela voltar...
Por hora, me dá mais uma lembrança para que eu possa dormir e sonhar se é o que me permite a circunstância.
Abtsrato.