E o Natal se aproxima, as luzes se acendem, as pessoas sorriem, a cobiça aumenta e a competição se acirra. Enquanto uns correm às lojas, outros à igreja. Todos a compensar de alguma maneira a falta que fazem, o vazio que sentem, a frieza de relações que não os aproxima e o frio de um coração gelado. Triste o meu olhar desta data que deveria inspirar os espíritos, trazer apenas frases positivas (...) mas se iludir demais deixa a mente bloqueada e os olhos cegos. Mas nem tudo está definitivamente perdido nestes tempos de tecnologia e aperfeiçoamento, poder aquisitivo e aquecimento da economia, poder de compra e facilidade de parcelamento, ainda presencio inspirações honrosas de pessoas que percebem a importância da cidadania, do respeito ao próximo:
-Vinha eu, retornando para casa após um dia longo de trabalho, um dia especialmente quente e eu estava em meio ao trânsito caótico da cidade, 2 quilômetros em 4 pistas completamente tomados por uma carreata de mesmo destino: a casa e o descanso. Num dia quente em que o asfalto molda-se ao desenho dos pneus e mesmo os prédios parecem render-se ao calor ao abrirem-se em janelas. Tudo normal para quem já desacredita que a cidade crescerá na velocidade em que carros são injetados nas ruas; quando sou acordado do transe monótono do evento majestoso sobre um erro de projeto, o som de uma ambulância me persegue, corro os olhos e vejo as luzes galgando espaços entre os veículos. Automaticamente, atiro o carro na direção da entrada de um prédio e, para minha total perplexidade, percebo que cada um, da sua maneira e dentro da sua possibilidade em meio ao aperto em que se encontravam, todos abrem espaço. Como na passagem bíblica histórica por sua grandeza, eis que a viatura que representa a força da vida e a crença na salvação passa por todo aquele mar de veículos! Tão logo sou surpreso pelo ocorrido, pensei em dividir com todos os leitores este exemplo de grandeza daqueles exaustos trabalhadores que, abrindo mão do seu cansaço, cederam passagem a alguém que lutava por sua vida no interior daquela van.
Minha mensagem de Natal não é, como parecia, pessimista. Ao contrário, é crente e otimista por acreditar que ainda se encontra dentro de todos nós, debaixo das mazelas de nossos pecados, um ser humano bom, que merece passagem e tem o direito de, neste Natal, nascer novamente à exemplo do Menino Jesus, deixando morrer o primeiro parágrafo deste texto, inspirando-se no exemplo do segundo e vivendo a partir do terceiro...
Um Feliz Natal a todos...
Abstrato.