Já não cabem dentro de mim tantos experimentos e tantas tentativas de entender os humanos. Entendo os cães, as suas expressões, as suas reações, mas o homem é especial em sua maneira de absorver as emoções, da maneira como dilacera o próprio sentimento quando cultiva uma dor interna.
Quando me sinto farto de visualizar uma situação, encontro uma nova faceta da coragem do homem de acabar consigo mesmo e destruir as fontes de sua própria sobrevivência, e choro.
Corrigi minha crítica apagando o nome que a iniciava quando reabri o espaço para esta emoção e mesmo assim vejo que não paramos de sangrar e o mesmo momento ainda cabe neste instante de análise:
No carro que leva os corpos para o trabalho, aqueles corpos jogados sem vida, inertes, que se movimentam pela ganância de poucos e pela necessidade de todos os outros. Escravos do consumismo que os obriga a trabalhar ainda mais para manter aquilo que lhes completa um peito vazio, uma síndrome cancerígena de inferioridade...
Não vejo sonhos no opaco reflexo daqueles olhos que se perdem através das vidraças fétidas do veículo que corta uma cidade marcada pelo individualismo coletivo, pela solidão aparente de uma multidão multirracial de perdedores que jamais jogaram, entraram na roda como fichas de aposta ou dados de uma sorte que nuca os contempla.
Na mala a fome, o cansaço e a preguiça de fazer pro si mesmo, debruçando-se na tranqüilidade que é deixar a cargo do destino, dos antepassados mortos, de Deus ou da sorte, seu insucesso e sua preguiça de lutar, cerrar o punho e ostentar a indignação que jaz sucumbida no peito cálido, nem mesmo aos seus ouvidos fala.
O homem que morreu, não deixou palavras sobre sua lápide.
Abstrato.