Aquela estranha sensação que nos inunda de maneira estonteante e nos destrói às migalhas, de tal forma que chega a meandros da vergonha de tal admissão da hiperbólica descrição do sentir medo... medo da própria dor e do flagelo que nos cerca a mente quando pensamos nestas.
O medo do que pode nos ocorrer ou ainda, daquilo que mal podemos supor ou dimensionar.
Como se a sensação do som das vozes quando juntas e fortes em uma orquestra que harmonizada nos tomam o corpo e a alma nos levando a sensações extremas que nos compõe em um êxtase emocional. É por tais caminhos que navegamos no escuro do próprio sentir. Tomados pelo amargo de um estranho sentimento de nossa incapacidade, dimensionar o conteúdo, tornar esta dor nossa aliada no que jamais descobrimos e transformar esta sensação de estranha a completa de um descobrir e ultrapassar nossos próprios limites.
Ao que me conhecem, amigos mais próximos conseguem sugerir do que tenho medo, quais momentos encaro por puro extremismo e daquilo que por natureza, me protejo nos mais profundos dos meus sentimentos. E então surpreendo a todos e mesmo a mim mesmo quando chego a este ápice de minha perseverança que, mesmo frente às palavras de clemência pela desistência deste enfrentamento, sigo em frente com dentes e testa cerrados para encarar o que sempre considerei ao mínimo inadmissível para mim.
O medo é a bandeira que colocamos nos limites de nossa compreensão das coisas terrenas, quando daquele ponto, sabemos estar não mais dominando nosso corpo e máquina, assim como qualquer outra forma de expressão que posicione-se em meio ao nosso momento mais íntimo de prazer e dor, desconhecimento e existência. Perguntamo-nos então, como pode aquele que tão mais sensível e franzino consegue tais feitos dos quais não sou capaz? Como pode aquele tatuar-se quando não suporto sequer o barulho das agulhas que em milhares de rotações (picadas) por minuto percorrem a pele sem que nem ao menos uma expressão de dor surja, nem mesmo exima a expressão de prazer que verifico nos rostos então coloridos pelas pinças esterilizadas dos pintores de carne humana?
É mesmo difícil compor esta frase e, parafraseando as palavras de Caetano: “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...”.
Eis que minha saga pela descoberta continua e hoje posso dizer: já levei pontos, já estourei balões, já arranquei dentes, fiz rapel, disse que amava alguém bem nos olhos e já encarei o meu pai quando levei uma advertência.
Nossa vida é doce e sua cobertura é repleta de descobertas que buscamos a cada segundo quando com estas nos deparamos, no momento em que a luz invade a caverna de Platão, temos um convite para desta sairmos e um novo mundo descobrirmos, mas, sabemos, nem sempre é fácil tomar esta decisão, assumir estes riscos e jogar-mo-nos das pontes sob cordas elásticas... decisões difíceis, que não podem jamais ser questionadas, assim como andar de motocicleta e encontrar a liberdade nestes momentos ao invés de simplesmente preocupações.
O mundo é uma flor, de rara beleza, aveludado como as pétalas de uma rosa. Mantenedor de um aroma elástico ao nosso paladar, mas, repleto de espinhos como qualquer rosa em sua natural morfologia.
Das cicatrizes, gosto de ter medo e, gosto mais, quando consigo deste, rir depois de desafiá-lo!
Valeu Kelly pela inspiração...
Abstrato.