segunda-feira, 7 de julho de 2008

Homenagem aos criadores de sonho...

E então você se vê frente a uma multidão...
O som das cadeiras a se mover devagar, vergando ao peso dos presentes, as vozes surdas que se amontoam aos seus ouvidos sensíveis e a tudo uma explicação e você sabe: estão falando de você... da roupa, do cabelo, da aparência no geral. Da luz e do cheiro e de todo o sentido que uma platéia para um palco tem como da Lua para o amante.
Você se concentra e enquanto aguarda pela acomodação de todos busca a melhor afinação, olha nos olhos de cada membro da seleta trupi que os trouxe até ali, corrige imperfeições inexistentes de seu instrumento e sente o suor que gela sua espinha mais uma vez – até mesmo os profissionais quando em qualquer evento, sentem o peso da responsabilidade de fazer valer o investimento, o deslocamento e a gentileza de estarem ali apenas para degustarem um pouco do que corre nas suas veias (artísticas). Você revisa mais uma vez cada palavra decorada, mentalmente refaz todas as ligações de áudio que compõe aquela estrutura e percebe que está pirando.
Pára.


Não há nada mesmo no que se prender, é a sua vez, as cortinas se abrirão e será você, sua noite, o evento de sua vida...

Sim, eles querem mesmo te ouvir, não desejam o seu mal e nem mesmo presenciar uma catástrofe. Seus ouvidos leigos nem ao menos podem compreender erros que por ventura podes cometer, mas você pressiona no seu íntimo a excelência de mais uma apresentação.
Pára.


A luz lhe ofusca e estão todos com um sorriso de satisfação que, de alguma forma apresenta-se no rosto e na mente de cada um, que te conhece, que sonha em te ver ali, ao vivo.... talvez apenas para comprovar que você é um fracasso (pára, esse não existe!).
O espetáculo começa e você tenta buscar nos olhos, na expressão de cada um a aprovação, a felicidade e a realização. A aprovação que falta para que possas te divertir e...


então...


algo estranho, muito estranho ocorre e sua imaginação pára, seus sentidos se tornam escravos e você vira uma pluma que vaga com o vento do espetáculo e nada sente, mesmo que te machuques, mesmo que te esqueças do texto, estás vivendo aquele momento criado pela mente de um louco autor e já és parte do espetáculo e quando você está se divertindo, completamente entregue ao que vive, as cortinas se fecham, cai a ficha...


acabou!


Sim, resta apenas voltar de mãos dadas e cumprimentar aqueles que ainda valorizam a arte, aqueles que acreditam em você e tem nesta, a chance de sonhar acordado com uma história extraordinária que não fora escrita para Hollywood...
Você tira a maquiagem com o mesmo creme, o cheiro lhe embriaga e lhe irrita os olhos, mas é demais embriagante a sensação de poder novamente ouvir aquelas poucas palmas sinceras... sim... foi apenas mais um espetáculo... e você nasceu de novo...


Ator: tua vida depende do próximo espetáculo!



Abstrato.

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