O silêncio das teclas
O dinossauro não sabe compartilhar
"Meus heróis morreram de overdose..."
Eu vivi uma adolescência onde desconhecíamos uma doença que não trouxesse chagas, que não debilitava ou se mostrava aparente. Quem tirava a própria vida era louco, as drogas eram as culpadas e o motivo de muito suicídio. Palavra dura de escrever e de encarar. Então, que força será essa, que dor tão grande será essa onde, a morte é o único anestésico capaz de suprimir?
Hoje eu entendo sobre a AIDS (que surgiu os anos 90 levando consigo grandes dos meus ídolos) depois da turma dos 27 (anos) que deixou-nos em função da sua arte, do exagero e por tudo culminou nas suas mais diversas e surpreendentes mortes.
Hoje eu vejo o mundo conectado, todo mundo entende de tudo um pouco afinal de contas, na ponta de seus dedos existe o oráculo que tudo sabe e que pode te transformar em um especialista de qualquer coisa a partir de uma simples pesquisa. Mas, será que, uma vez desconectados, ainda conversamos, ainda temos amigos e somos capazes de interagir? Eu não vejo as pessoas olhando-se nos olhos ou realizando encontros, hoje a amizade é alimentada por mensagens de texto, quiçá de voz, em grupos, hoje somos mais um no grupo da família, no grupo da banda, no grupo do trabalho e no grupo como cliente, no grupo do atendimento, no grupo do grupo que tem a missão de criar grupos.
Será que existe portanto, uma explicação para que uma doença avassaladora e silenciosa invada essa nova virtual sociedade que interage apenas através de dispositivos eletrônicos? Enquanto vejo diagnósticos eletrônicos sendo feitos pelo google por 40 dólares, descobrindo falhas no seu DNA, vemos pessoas ceifando a própria vida, após reclamar amizades nas redes sociais.
Eu não tenho qualquer conhecimento assumido que mereça atenção, mas quando ouço o pedido: "larga o celular e olha pra mim", corre um frio na minha espinha porque, sem perceber, estou me tornando outro andrógeno que coloca o seu tempo e sua atenção no cabide eletrônico da tecnologia e, ignoro a pessoa mais importante do mundo: Aquela que está a meu lado!
Acho legal que cada um faça um exercício da auto crítica gratuita para verificar como anda a sua timeline, quantas vezes o celular te chamou a atenção com uma nova mensagem até a metade da sua manhã e, destas chamadas, quantas vezes, foi por uma bobagem, uma fofoca, uma notícia falsa, uma pessoa desesperada por atenção...
Somamos decepções por verificar que o mundo não tem mais conteúdo, vive da exposição gratuita, não se une em função de uma ação social, mas compartilha, tweeta, encaminha e replica, copia e cola e nada cria.
Se assim, prefiro ser aquele dinossauro apavorado com o meteoro e morrer eletronicamente para continuar sendo de carne e osso para os meus amigos.
Caxias do Sul, 24 de outubro de 2018.
Dênis Caberlon.