terça-feira, 6 de janeiro de 2015

O Abismo entre a expectativa e a realização

-A presunção do autocontrole é o início da derrota-

Fonte: http://refugiodosfujoes.blogspot.com.br/


Entre a expectativa de reparação da dor utilizando como arma a sua própria dor. Como desagravo, espelhar sentimentos ou condições, presumindo equidade entre o ato e o resultado. Impôr uma justiça fundada no conceito do livre arbítrio, distante de qualquer julgamento humano ou religioso. Mortificar sentimentos e estados buscando refrescar-se na acidez da sua própria justiça, concebida com base nas próprias dores. 

O que te faz referir em razão do expresso acima? Pois bem, discussões infindáveis em mesas de bares, na ditatória de cultos religiosos e o fato continua por existir e dividir opiniões até que sejam apenas opiniões daqueles que não carregam a chaga da imprudência que tivera atingido de alguma forma a sua família ou amigos. Mas creio que o exercício seja válido.

Aos fatos: 
uma covardia, quando arquitetada por uma mente humana, tendo como resultado, famílias abaladas, desespero, tragédia... gera sempre revolta social, assim como a comoção de todos. Sociedade dividida entre acusador e acusado, entre atingido e atirador. São os pontos máximos do que vemos na mídia, sensacionalizados pela envergadura dos danos, enfim... enquanto isso uma família esconde-se para lamber seus ferimentos ou pega uma arma e sai em busca de justiça...

Então escuto:
"...eu faria o mesmo com ele na hora..."
Na hora?
Eis que, com  o apelo (ou a bengala) à insanidade temporal, permite-se desdizer ou descumprir toda a ordem normal da sociedade da maneira como respeita e prega tal respeito. Abre um furo no tempo pelo qual dá-se por prerrogativa, a autoridade da justiça suprema, tendo como base a sua perda em uma ação indenizatória de justiça sensorial.

Erra quando vive na retidão de leis inflamadas de heroísmo, pois cega e mostra-se monstro quando é atingido pela realidade crua e acre da notícia que, enquanto distante, é plástica e inatingível.
Vemos todos os dias as tragédias se amontoando, atingindo famílias, comunidades e até cidades, tornamo-nos calejados com as desgraças sociais porém não nos toca uma notícia lida, não fere nossa rotina e nem mesmo a nossa felicidade.

Penso naqueles que foram atingidos pela adaga da realidade, perfurados pela lâmina fria da tristeza e no auge deste sentimento que beira a loucura é que vemos a vingança e a sagacidade daquele que sempre se fez passivo para tudo. 
E você saberia, conseguiria manter a indiferença rotineira frente a uma tragédia que lhe impunha diretamente a sensação de atingimento, aquele escolhido por um raio (afinal, "é como raio cair na minha cabeça" e sabemos que caem e muitos!). Como materializa o teu estar, ao deparar-se com os acontecimentos que enlaçam um final funesto, percebendo simplesmente conter na dor, a irracionalidade que não tem concessão judicial em razão do ocorrido.

Quando temos uma ideia, realizar algo para promover um evento, temos necessariamente uma expectativa em nossa perspectiva de realização. Antevejo o fato posto acima, onde simplesmente não temos criação espacial para o cenário que se forma acarreado pelo trágico impacto da notícia em nossa realidade. E o que fazer portanto, quando somos tomados pela surpresa, misturada aos sentimentos de dor e desespero pelo que nos tira a realidade sob nossos pés?

Penso que há um deslocamento atemporal do conforto da realidade de uma pessoa no momento em que confronta-se com alterações protagonizadas por circunstâncias até então inéditas, e esta sensação que presume o sofrimento, impede a sensibilidade para todos os tipos de estímulo que buscamos prever na composição de uma suposta surpresa.

Creio que todos tem uma métrica de suas atitudes mapeadas a partir de sua sugestão porém, na realidade, não fazem a mínima ideia de como reagir em face a uma notícia, fato ou circunstância surpreendente. Assim, justifica podermos dizer que cegamos quando em um ato alimentado pela dor, angústia, pânico, surpresa ou raiva. Afinal de contas, todos os sentimentos são contrários ao que estamos preparados a nos deparar.

Mas espero que, quando cegares, que seja por amor, não pela sede de vingança.

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