segunda-feira, 17 de novembro de 2014

No tempo de uma canção

-O mundo no intervalo de uma canção-

Fonte: http://ultradownloads.com.br/


Dentre as músicas que ouço, diversas cenas de cinema se formam na minha mente e por vezes eu penso: que bom seria viver neste mundo... dentro de 3 a 5 minutos, viver uma vida e toda essa verdade ser então eterna, riscando o horizonte com a continuidade comum e natural daqueles poucos versos em que o autor encontrou o amor ideal, o sentimento mais puro ou a mulher mais lida. Enfim, conseguir criar no intervalo de uma faixa, uma vida completa e perfeita, livre das deficiências de nós seres humanos que pecadores, cometem os mais bárbaros erros, caem nas provas mais simples do desafio da vida.

Penso em todos aqueles que influenciam-se e permitem que o mundo fantasioso da música passa a ser uma realidade paralela onde esconde-se para que não precise viver a terrena realidade do ser humano rastejante da margem dos sentimentos incompletos. A fonografia tão fina e rica em seus detalhes, permanece na abóboda da perfeição, inalcançável pela maioria dos humanos, mas, quando viver dentro da canção, parece-me tão simples e transparente viver como o vocalista e sentir-se nos quadrinhos de um gibi, contornando problemas com bárbaras soluções criadas pela criatividade e tendenciosas pela necessidade da rima. Porém, onde reside então a sua verdade incondicional se não há forma mais correta de tornar viável os próprios objetivos de uma vida?

Reconheço os personagens do teu próprio insucesso, quando veste-se com o manto da mentira em que insiste em viver, ignora que haverão pessoas que gostariam de participar da tua história, caso ela tivesse pois, um mínimo de realidade que pudesse tornar condicional a realidade. Mas é tão mais simples ignorar a vida não? É delicado portanto acordar deste sonho de perfeição e encarar os olhos pálidos e opacos da realidade morta, baixando qualquer expectativa ao nível da mais certa e previsível decepção. Mas vejo que não lhe restam alternativas, você gira, gira, gira e conclui que recomeça um novo ciclo a cada faixa, trazendo à tona sentimentos que não são verdadeiramente seus, mas confortável se torna permanecer na ficção de sua própria vida protegida da dor e do desconforto da verdade absoluta e simples: você não sabe mais quem é, qual papel representa na sociedade, pois vive a farsa de um qualquer cantar desafinado e místico que recorda a cada playback dos próprios sentimentos.

É triste ter que informar-te: a vida não é apenas isso e essa distância da Lua jamais será coberta pelas dores que sente, jamais alcançará o amor real pois passa o tempo de seu viver a considerar a possibilidade da realização da vida em sua ansiedade imaterial e fictícia. Mesmo que, sob pena da unilateralidade dos teus sonhos, vais viver um doce manjar de sonhos conjugados com o formato mais empolgante e destrutivo que jamais fez parte da própria realidade.

A velocidade chega para você em 33 1/3 fazendo vertigens na sua mente, criando um mundo imaginário completo e cheio de aventura, um mundo onde pode te considerar super humano, intangível e incomparável. Não contempla mais o sol ou a lua, se noite ou dia, pouco importa pois o atemporal resultado da sua vida, não tem mais do que 5 longos e repetitivos minutos e isso considera comum perceber sua ilusão cíclica de troca da realidade pelo conjunto de emoções que recebes de uma canção sempre que contempla a mesma história e com ela aprende e passa a utilizar tal verdade como regra, quando apenas pode tentar entender não se tratar de uma natureza tangível e resultado da interferência do meio que te enfatiza as malezas de um mundo diferente da tua compreensão.

E se fechares teus ouvidos e tentar interagir, te faltarão argumentos e vocabulário, pois não pode usar e nem mesmo sabe, fazer compor pensamento maior do que as 5000 palavras daquela letra de música e único sentimento que a música te mostra.

Desliga o que te influencia, leia e escreva o que te vem á mente, liberta-te do que hoje te faz escravo.


Abstrato.

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