Pela janela...
Na atmosfera de um domingo, muitas formas mudam, assim como o dia que amanhece preguiçoso e sem sol, os beija-flores que vem com receio procurar os bebedouros e as flores que ainda persistem ao frio... a páscoa que nos batiza com um dia cinza e monocromático.
Assim avalio o dia seguinte ao que me lembro como anterior e assim se mostra: com o vento a despentear as árvores e indicar para as nuvens o caminho a cavalgar. Enquanto isso, da minha janela, busco o horizonte entre as montanhas que vejo e assim é a mente humana quando precisa ver além da sua realidade e tenta carregar na realidade, antecipados detalhes do futuro. Isso nada mais configura do que a nossa impaciência pela espera da realização de sonhos, tal como os olhos do agricultor a esperar pelo brotar de suas sementes, depois de criar o berço na terra para os embriões semeados, fixa os olhos e imagina como serão as primeiras folhagens, resultado do seu plantio.
A nossa vida não espera pela nossa inércia e também não corre para antecipar acontecimentos. Tudo é cronometrado, como a quantidade de chuva para cada região conforme o seu gosto. Nossas reações, cada uma delas, ao seu tempo independente do que achamos ser o mais adequado, o dia, a noite... mesmo que mudemos o horário por nossa conta e interesse, terá o tempo que entender necessário para cada estação do ano. E assim a vida vai ao seu passo e seu tempo, nos deixando ansiosos e por vezes atrasados.
Eu ainda olho pela janela e sei que apenas 4 minutos e meio se passaram, apesar de desejar que muitas decisões já tivesse sido tomadas e que muitas luas tivesses transpassado pelo meu céu e, mesmo que isso não tenha acontecido -ainda- me resta apenas a contemplação e a graça de poder desenvolver meu texto enquanto aguardo que cada ciclo complete-se para que as minhas ambições sejam conferidas e respondidas à minha ansiedade que neste momento preenche mais do que o normal da minha atenção.
E assim o mundo se configura na nossa realidade e forma nossos dias. E amanhã, isso será passado, mais uma vez.
Abstrato.