terça-feira, 14 de julho de 2009

Boa Sorte...

Boa Sorte

Hoje a noite eu disse boa sorte, quebre uma perna, seja feliz, aproveita a satisfação da platéia...
Hoje agradeci ser o irmão mais velho, agradeci um dia ter dado aquele presente à ele, um simples contra-baixo elétrico de marca desconhecida e guerreiro que afrontava o silêncio daquelas garagens e do porão do velho clube união. E me orgulhando repassar o videotape de uma vida difícil, uma história de amor à música que culmina num momento como o de hoje, onde ele estará lá: em frente aos holofotes, realizado por fazer o que gosta em frente aos amantes da música que ele ama, tal como o irmão mais velho que se reserva a estas palavras.
É ímpar o sentimento de poder fazer parte do bastidor desta história... lembrar daquele primeiro acorde mal definido e do ritmo cravado na memória naquele 1..2..3..4.. e hoje ver que valeu a pena. Pouco por minha pouca paciência e muito mais por sua teimosia em mesmo canhoto, esforçar-se para dividir comigo o instrumento destro.
Lá vai ele para mais uma apresentação... apresentação para qual tanto se prepara e busca a perfeição, dividir com desconhecidos e eloqüentes amantes da boa música e uma dúzia de amigos, o resultado de um esforço imenso. Acompanhado de energias onipresentes que no brilho mais instável de luz, olham por ele e lhe mandam energia como eu, a 200 km de distância.
Vai ver aquele palco vazio e iluminado, povoar de cabos, amplificadores e monografias de tablaburas mentais que acompanham seu repertório. O repertório que sempre é dúvida até o momento de sua execução. O repertório riscado e rabiscado de incertezas e prazeres que todos querem ouvir e vivenciar em 2 raras horas de pura inspiração na glória da musicalidade criada em um pequeno e seleto grupo de amigos.
Ao ligar dos instrumentos para o primeiro teste de som, a cabeça gira, o pensamento se multiplica... tentando criar uma linha de raciocínio, saber como será o espetáculo, as reações e eventos que farão parte da história, mesmo sabendo que na hora, tudo sai diferente de como fora em estúdio.
Volumes acertados...
O relógio pára!
E as horas que antecedem a apresentação não se precipitam, como se houvessem congelados os ponteiros do relógio. A garganta seca e as conversas tentam esconder a ansiedade individual que polui o pensamento de cada um dos músicos.
As cortinas se abrem, a luz acende e não vê mais nada, fecha os olhos no ritmo dos clássicos e sente-se, por um instante em New Orleans, em 1962, tocando para os escravos trabalhadores que choravam juntos as mágoas que o som expressa... é lisérgico, único e viral, toma conta de cada músculo descontrolado que se move ao impulso inconstante da realidade... então passam as primeiras músicas e ao abrir dos olhos, vê apenas o brilho louco daqueles que estão ali, embriagados pelo ritmo, navegando junto no navio do prazer musical, reconhecendo amigos, estabelecendo um laço inquebrantável de fidelidade única.
Ao final, em palmas, recebe o pagamento de cada hora, cada bolha, câimbra e dor sentida, cada hora dispensada e tudo a que abriu mão para buscar o seu sonho: ser o músico que é.
Sente o ferver do sangue na viagem lisérgica do prazer incontido de brilhar em um breve momento depois de tanto esforço e ser tão fácil, ser tão simples como fazer cantar um instrumento ao toque dos dedos nus.
Hoje é ele, o espelho mais nítido daquilo que a mim não fora destino, tocar visceralmente e sentir o prazer que ninguém poderá roubar, qualquer alma não poderá roubar, por mais que expurgue todos os seus bens...
É meu irmão, com muito orgulho... um Caberlon nato!
Te amo mano veio!

Abstrato.

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