quarta-feira, 28 de maio de 2008

Faço minhas as tuas palavras

Bah que frase essa que consegue arrancar sangue dos meus ouvidos, não pelo privilégio divino de não ter vergonha das besteiras que profano. Mas por favor, todos temos que transpirar, urinar e defecar e entre outras coisas que somos obrigados a expelir, temos que colocar para fora nossos pensamentos, mesmo que seja para simplesmente escrever naquele papel que inevitavelmente vai para o lixo no momento seguinte ao do ponto final. Mas a gente também não diz tudo e não tem a habilidade de dizer todas as palavras sem erros e sem a necessidade de revisões... por este motivo, quero compartilhar algumas palavras hoje, que, apresentadas pela minha querida companheira, não poderia eu jamais esperar o dia de conseguir produzi-las por punho próprio... pois vá lá...
Espero que gostem...



NOTAS PARA UMA REGRA DE VIDA


Precisar de dominar os outros é precisar dos outros. O chefe é um dependente.

Aumentar a personalidade sem incluir nela nada alheio- nem pedindo aos outros, nem mandando nos outros, mas sendo outros quando outros são precisos.

Reduzir as necessidades ao mínimo, para que em nada dependamos de outrem.

É certo que, em absoluto, esta vida é impossível.

Mas não é impossível relativamente.

Consideremos um dono de escritório.

Ele tem obrigação de poder dispensar toda a gente; tem a obrigação de saber escrever à máquina, de saber contabilidade, de saber varrer o escritório.

Que a sua dependência dos outros seja, portanto, só uma necessidade de não perder tempo, e não uma necessidade da incompetência própria.

Que diga ao praticante, "Vá deixar esta carta no correio" porque não quer perder o tempo que levaria o deixá-la no correio, mas não porque não saiba onde é o correio.

Que diga ao empregado, " Vá tratar deste assunto ali", porque não quer perder o tempo de o tratar, mas não porque não saiba tratá-lo.


Fernando Pessoa- Livro do Desassosego-

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