quinta-feira, 18 de junho de 2020

Trilhos Lunares

Tudo tem início no lápis que traça a rota, até o próximo destino.
Cortando vales, montanhas e rios, 
a imaginação insana dos engenheiros 
preveem o trajeto que será traçado. 
O ser humano precisa de interligação, 
objetivo e foco no destino, 
na reta coerente que levará todos os seus sonhos, 
sua produção, o resultado de sua própria criação.

A mão de obra fincada em suor, 
lágrimas e sofrimento 
forja no piso irregular, 
cada metro fundido de aço das linhas que levarão do início ao fim, 
sonhos e emoções, 
progresso e a liberdade da criação.


Locomotiva de esperança


Não existe nada neste mundo moderno sem um traço do DNA das linhas de trem que cruzam o planeta.

Os trens, presentes nas mais remotas histórias de amor, os trens do progresso e da evolução industrial supriram de matéria prima, alimento e romantismo a história da vida moderna.

Eles evoluíram, consumiram combustíveis dos mais diversos, da madeira à energia elétrica, passaram por óleos minerais, petróleo e energia cinética. Carregaram - e até hoje carregam - tudo aquilo que não poderíamos transportar por outro meio. Levaram poetas às estrelas e artistas à loucura, num misto de solidão e esperança, criaram na mente de cada menino a ansiedade pela sua chegada. Acumularam sentimentos de reencontro e despedida, separaram e aproximaram famílias e amigos. 

Os trens... hoje, fantasmas do passado em túneis e trilhos inutilizados, substituídos por navios, aviões e abatidos pela ganância do ser humano no consumo do petróleo, escravizando o terceiro mundo a consumir o produto negro de multinacionais.

Estes que estimulam a criatividade de pessoas que têm para com o conjunto, o exemplo de liderança, onde a máquina puxa os seus vagões, os levando confortavelmente pelo caminho na direção de seu destino, cumprindo com a designação de seus destinos.

As janelas de um trem de passageiros me contaram sobre olhares perdidos no horizonte e nas estrelas, contaram sobre tramas e negócios, sofrimento e desilusão de quem teve que deixar seu amor para trás em busca de uma oportunidade no mundo que existia a partir do final daquela linha.

Dormentes apodrecidos, cansados com parafusos e pregos que ali definharam com o poder do tempo. Sob o mais impetuoso calor, ao trincar do frio, mantiveram-se ali, e em grupo, permitir o andar composto de um gemido lastimoso na frouxidão do seu andar contemplativo.

O momento regado a trilhas sonoras esplendidamente selecionadas por um mestre em capturar o melhor de cada artista nos eleva a alma, infla nossa mente para uma dimensão superior de compreensão e nos anima a sugerir as mais loucas interpretações para as canções e histórias que a que os trens nos remetem.  

Nestas locuções lisérgicas que Karina Faria impunha nos seus programas, as músicas flertam com olhar perdido de seus ouvintes, fazendo planar os corações e reviver lembranças, emoções, filmes e vidas que cruzaram horizontes sob máquinas metálicas voadoras, que carregam sonhos nas poltronas e vagões pelos vales da emoção do ouvinte que se vê inesperado, à bordo de um vagão, sendo puxado pela conduta do grande maestro desta trilha sonora, o maquinista Álvaro Garcia.


Abstrato.

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