Cortando vales, montanhas e rios,
a imaginação insana dos engenheiros
preveem o trajeto que será traçado.
O ser humano precisa de interligação,
objetivo e foco no destino,
na reta coerente que levará todos os seus sonhos,
sua produção, o resultado de sua própria criação.
A mão de obra fincada em suor,
lágrimas e sofrimento
forja no piso irregular,
cada metro fundido de aço das linhas que levarão do início ao fim,
sonhos e emoções,
progresso e a liberdade da criação.
Locomotiva de esperança
Não existe nada neste mundo moderno sem um traço do DNA das linhas de trem que cruzam o planeta.
Os trens, presentes nas mais remotas histórias de amor, os trens do progresso e da evolução industrial supriram de matéria prima, alimento e romantismo a história da vida moderna.
Eles evoluíram, consumiram combustíveis dos mais diversos, da madeira à energia elétrica, passaram por óleos minerais, petróleo e energia cinética. Carregaram - e até hoje carregam - tudo aquilo que não poderíamos transportar por outro meio. Levaram poetas às estrelas e artistas à loucura, num misto de solidão e esperança, criaram na mente de cada menino a ansiedade pela sua chegada. Acumularam sentimentos de reencontro e despedida, separaram e aproximaram famílias e amigos.
Os trens... hoje, fantasmas do passado em túneis e trilhos inutilizados, substituídos por navios, aviões e abatidos pela ganância do ser humano no consumo do petróleo, escravizando o terceiro mundo a consumir o produto negro de multinacionais.
Estes que estimulam a criatividade de pessoas que têm para com o conjunto, o exemplo de liderança, onde a máquina puxa os seus vagões, os levando confortavelmente pelo caminho na direção de seu destino, cumprindo com a designação de seus destinos.
As janelas de um trem de passageiros me contaram sobre olhares perdidos no horizonte e nas estrelas, contaram sobre tramas e negócios, sofrimento e desilusão de quem teve que deixar seu amor para trás em busca de uma oportunidade no mundo que existia a partir do final daquela linha.
Dormentes apodrecidos, cansados com parafusos e pregos que ali definharam com o poder do tempo. Sob o mais impetuoso calor, ao trincar do frio, mantiveram-se ali, e em grupo, permitir o andar composto de um gemido lastimoso na frouxidão do seu andar contemplativo.
O momento regado a trilhas sonoras esplendidamente selecionadas por um mestre em capturar o melhor de cada artista nos eleva a alma, infla nossa mente para uma dimensão superior de compreensão e nos anima a sugerir as mais loucas interpretações para as canções e histórias que a que os trens nos remetem.
Nestas locuções lisérgicas que Karina Faria impunha nos seus programas, as músicas flertam com olhar perdido de seus ouvintes, fazendo planar os corações e reviver lembranças, emoções, filmes e vidas que cruzaram horizontes sob máquinas metálicas voadoras, que carregam sonhos nas poltronas e vagões pelos vales da emoção do ouvinte que se vê inesperado, à bordo de um vagão, sendo puxado pela conduta do grande maestro desta trilha sonora, o maquinista Álvaro Garcia.
Abstrato.