segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Fantasmas heróis

-Um dia de recordação e saudade-
Mais um dia de Finados...


O feriado que chora está aí, mais uma vez. Repetindo a tendência de um dia cinzento e triste, onde nem mesmo a nossa cama parece confortável ao ponto de podermos evitar a necessidade de erguer-se para um dia singular como este. Continuamos então, seguindo os caminhos da vida, escrevendo mais uma página de nossos dias, buscando apaziguar, acalentar os corações que batem torto por terem na memória, a falta que aquele amigo faz na sua vida.

Para alguns, apenas uma data para esticar o final de semana e relaxar, deixando os compromissos de lado, sem grande lembrança ou noção do que se trata o fato. Natural do ser humano fugir e inibir o que lhe machuca ou lhe faz pensar, o que pode lhe deixar cabisbaixo e triste. O fato é, ter na autoproteção o mínimo de sentido, buscando equilibrar o sentimento e a ansiedade para que não seja tomado por ela de forma completa e sem medida.

Mas é também um dia de uma tristeza suave, que cobre de nostalgia nossas memórias sobre todos aqueles que nos deixaram, que encerraram a sua missão terrena, ou, como defendem tendências, desencarnaram. Enfim, apesar das crenças, é neste dia em que todos buscam o apelo da memória para salientar a falta, a lacuna que fica, não poder mais contar com aquele amigo, com a mãe ou o pai, enfim, com aquele que partiu e soltou a nossa mão antes do final da jornada.

Temos por convicção a certeza do fim, sabemos que somos passageiros e que tão logo essa viagem pode vir a terminar num sopro simples daquela chama que nos mantém vivos. Hoje ouvindo as notícias da manhã, me surpreendi que, mesmo nem tendo iniciada a peregrinação de retorno de toda uma multidão que abandonou sua cidade e sua rotina em busca de diversão em outros horizontes, já registram-se mortes, já somamos mais pessoas que deixaram falta, que estarão nas homenagens deste triste dia que não consegue dirimir a dor daqueles que ficam, que mantém o caminhar altivo mesmo sem saber, sozinhos.

Tive um amigo que aqui, deixo uma lágrima da minha saudade. Uma vida ceifada pela foice da morte, uma inspiração que jamais esquecerei que, aos domingos, visitava seus amigos pedindo uma ajuda, 1 Kg de algum alimento ou roupas, com sua moto, enchia a mochila que levava em suas costas para doar ao asilo de sua cidade. Um gesto de tamanha grandeza que eu me surpreendia a cada vez que o via batendo na minha porta em busca de uma esmola que nem mesmo era para o seu próprio benefício, mas sim, para os outros mais que não tinham condições desta postura, deste ato de heroicidade. Digo-lhe herói porque não lhe sobrava ao ponto de derramar recursos, em verdade, sua casa onde vivia com a sua mãe e sua irmã, não maior do que 6 metros quadrados de tábuas ajeitadas no de acordo com as suas deficiências, saía ele em busca do bem, alimentando a sua alma. E assim foi, assim partiu, levando apenas essa postura corajosa e solitária, onde caminhava sempre buscando o bem daqueles que o rodeavam, assim como o fez comigo, tentando sempre ser uma pessoa boa, de polida postura e trato sem jamais manchar sua índole sob qualquer circunstância. De seus humildes presentes, ainda guardo as pedrinhas que trazia quando lembrava do amigo que não estava junto dele, da tampinha de garrafa que marcou uma noite de despedida, como se soubesse estar despedindo-se da vida. Apesar da aparência rude, uma alma branca e límpida que deixará saudade para todos aqueles que tiveram o privilégio de conhecê-lo.

E assim, acumulam-se pessoas que lotam as cadeiras da minha lembrança, e, apesar de sermos os mesmos e seguirmos os mesmos e continuarmos vivendo, sabemos que carregamos as influências e vivemos a agradecer por termos podido ter feito parte da história comum que escrevemos. Não deixaremos de amá-los, não deixaremos jamais de lembrar de como fizeram parte de nossas vidas, apenas partiram cedo, e agora são energia que nos move para que sigamos nosso caminho com a lembrança de que fomos felizes na sua companhia.

Sugestão do abstrato?
-Não deixe sumir de nossa curta e deteriorada memória as lembranças de pessoas importantes que partiram cedo, porque de alguma maneira, eles, todos eles, continuam fazendo parte de nossas vidas, já que, somos parte do que fizeram, contribuindo para que nos tornássemos quem somos hoje - e seremos para sempre.






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