quinta-feira, 2 de julho de 2015

Fechar os olhos é confortável

De volta...


Escrever... no conceito de simplesmente escrever, jamais me enquadrei. Talvez por tal, houvera passado pelo movimento lento na harmonia de uma sinfonia. Natural na vida de qualquer pessoa, creio eu.

Nesta dinâmica de Allegro, voltar a escrever é reencontrar-se com o próprio espelho em face dos acontecimentos e hoje, retomando minha normal expressão do pensamento social, vamos abordar um assunto que sempre foi discussão ignorada justamente pelos indivíduos que poderiam de alguma maneira auxiliar. Por outro lado, estressantemente abordado por quem clama e está inserido no grupo que necessita e apela por definição.

Tenho empenhado o meu tempo, assim como o tempo de alguns amigos em mais uma campanha que busca arrecadar doações, roupas, cobertores, fraldas, colchões e qualquer outro item que, em desuso, possa servir para outra família para quem este, pode ser a diferença entre a vida e a morte, a dignidade e a humilhação.

Nesta jornada, reconheci e conheci pessoas de imenso coração, interessadas em auxiliar e saber que o destino de suas doações será preciso e útil na sociedade. Pessoas que deslocaram-se entre grandes distâncias para alcançar uma doação gratuita e espontânea, sem esperar nem o mínimo agradecimento em relação ao que haveriam realizado. Vi rostos cansados e tristes, com uma ponta de esperança que os mantinham de pé, seguindo em frente e desacreditando o poder da atração em razão das privações da sua condição existencial. Olhos caídos envergonhados por precisar aceitar e tomar posse de bens tão simples, necessários e importantes, que não conseguiam alcançar. Tocar a intangível mazela da pobreza e da falta de oportunidades mexe de maneira inenarrável com qualquer ser humano que possui um coração minimamente interessado no bem comum, no social e prático. Uma experiência inesquecível, a mais do que uma viagem ou passeio único a qualquer lugar. Neste meio porém, conheci pessoas, almas caridosas que privaram a si mesmas, assim como suas famílias para auxiliar aquele que tinha uma necessidade maior do que a sua, não por abundância mas sim por consciência da necessidade coletiva da sobrevivência.
Por outro lado, vi brilharem os olhos daqueles que puderam, na dimensão da sua possibilidade, auxiliar e conceder uma doação, olharam para a sua necessidade e verificaram a oportunidade de prodigar coisas desnecessárias. Vi alegria no austero ato de vestir-se com o uniforme de doador, num sorriso sincero que denotava claramente que o obrigado apesar de sincero, era ínfimo em relação a todo o ar de bondade que enchia seus pulmões.
Todo este envolvimento e carga de sentimento que envolve o ato da participação social e a doação, me leva consequentemente a visualizar um contraponto vergonhoso: o descaso, o egoísmo e a mesquinhez...
Me deparei com pessoas falsas que insubordinam a ação a que se propõe, tomando para si, desnecessariamente, o que falta para quem realmente necessita, burlando e contraventando ao objetivo de uma campanha. Vi o descaso no dar de ombros daqueles que simplesmente ignoram o esforço, não veem a pilha de roupas que atravanca o seu guarda-roupas mas não importa-se em dá-las um destino útil.
E, ao olhar para a sociedade, vejo aqueles que lavam carros e calçadas abundante e desnecessariamente para seu conforto e satisfação, o fazem despreocupadamente - assim como compram mais guarda-roupas para encarcerar mais roupas e adquirir mais roupas.
Porque?
Porque tem água potável para tomar - não tem sede - e a cada vez que abrem o chuveiro e a torneira, encontram água, porque tem uma casa gigante para colocar diversos móveis, porque não sentem frio, não passam vergonha com roupas rasgadas ou sujas. Tem sangue nas veias e saúde em suas famílias, por isso não se preocupam com os hemocentros.

Uma triste postura social, voltada para o EU, consumista e exibicionista que tem o prazer em declarar  e expor seus bens e sua abundância, mas esquece que somos feitos de alma, coração e personalidade. Somos parte de um todo comum e este desequilíbrio social prejudica a todos, desumaniza o ser humano transformando-o em escravo de suas conquistas materiais.


Eu acredito no ser humano e na bondade, acredito no desapego material. Não se trata de hipocrisia, tão pouco um voto de pobreza, apenas o equilíbrio do viver balanceado entre a necessidade e a realização pessoal. Temos todos um coração, precisamos apenas massageá-lo para que ele continue batendo. Pois a melhor música de nossas vidas sempre vai ser a felicidade comum, o agradecimento e o reconhecimento.





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