
Minha namorada me convidou para fazer uma crônica sobre sinais de pontuação, o assunto ganhou corpo e forma, com a ajuda da minha sogra querida e meus pitacos, ela chegou a um lindo texto que quero compartilhar com vocês... aproveitem...
"A companheira ideal
Me atormenta o início de um livro de Clarice Lispector Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, ela inicia este romance com reticências, o que me causou certo estranhamento. Ainda reverbera no meu pensamento a pergunta: o que havia antes e foi omitido? Afinal, as reticências são assim mesmo, no início, deixam a dúvida e no final de uma história a liberdade da continuidade e do infinito.
As reticências são como janelas para o sonho, para a criação e o devaneio. A liberdade que o escritor sugere ao leitor de poder pensar o que quiser, e dar continuidade a uma...
Prefiro sempre as reticências, elas me soam esperança, diferentes do ponto final que encerra assuntos, anula, acaba, é preciso e cruel: Ele morreu (ponto) - acabou, fim! The end! Diferente de Ele se foi... para onde? Para onde sua crença quiser... as reticências permitem que haja continuidade, que a história não termine na gramatura de um ponto final. São amigas do escritor que permitem esconder pensamentos, omitem ações, sugerem aquilo que não pode ser dito – apenas implicado.
Já as interrogações – essas tiranas – nos tiram o sono, nos atormentam, afligem – o que será que aconteceu? Será que ele vem? E se eu fizer? E se não fizer? Se eu for? E Se eu não for? E assim amanhece o dia, mais uma noite em claro na companhia atormentadora das interrogações, se for para virar a noite, que seja na companhia agradável das reticências... se ele vier... prepararei um jantar à luz de velas... se eu for promovida, compro... se eu fizer aquela jogada... me perco entre tantos sonhos lúcidos, acabo por adormecer...
As reticências são muito mais profundas do que as exclamações, estas possuem a beleza do efêmero: que Lindo! Que susto! Mas não se sustentam, não se mantém... são finitas e virarão pó quando deixarem de ser exclamações para se tornarem apenas citações conclusivas.
Me atormenta o início de um livro de Clarice Lispector Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, ela inicia este romance com reticências, o que me causou certo estranhamento. Ainda reverbera no meu pensamento a pergunta: o que havia antes e foi omitido? Afinal, as reticências são assim mesmo, no início, deixam a dúvida e no final de uma história a liberdade da continuidade e do infinito.
As reticências são como janelas para o sonho, para a criação e o devaneio. A liberdade que o escritor sugere ao leitor de poder pensar o que quiser, e dar continuidade a uma...
Prefiro sempre as reticências, elas me soam esperança, diferentes do ponto final que encerra assuntos, anula, acaba, é preciso e cruel: Ele morreu (ponto) - acabou, fim! The end! Diferente de Ele se foi... para onde? Para onde sua crença quiser... as reticências permitem que haja continuidade, que a história não termine na gramatura de um ponto final. São amigas do escritor que permitem esconder pensamentos, omitem ações, sugerem aquilo que não pode ser dito – apenas implicado.
Já as interrogações – essas tiranas – nos tiram o sono, nos atormentam, afligem – o que será que aconteceu? Será que ele vem? E se eu fizer? E se não fizer? Se eu for? E Se eu não for? E assim amanhece o dia, mais uma noite em claro na companhia atormentadora das interrogações, se for para virar a noite, que seja na companhia agradável das reticências... se ele vier... prepararei um jantar à luz de velas... se eu for promovida, compro... se eu fizer aquela jogada... me perco entre tantos sonhos lúcidos, acabo por adormecer...
As reticências são muito mais profundas do que as exclamações, estas possuem a beleza do efêmero: que Lindo! Que susto! Mas não se sustentam, não se mantém... são finitas e virarão pó quando deixarem de ser exclamações para se tornarem apenas citações conclusivas.
Certa estava Clarice, nada começa sem haver passado envolvido, por isso tantas reticências em sua obra. Se tivesse que escolher um ponto para minha vida, seriam as reticências, é muito mais (...) pensar com elas... (concluam como quiserem) afinal as reticências permitem..."
Alana Vizentin.